Principal crítica é a falta de dados sólidos sobre a frota que circula na capital
Modelo aprovado pela Câmara, de teste ambiental com periodicidade maior, é similar ao da Alemanha
EDUARDO SODRÉ EDITOR-ADJUNTO DE "VEÍCULOS"
Os intervalos aprovados pelos vereadores de São Paulo para a inspeção veicular ambiental não têm base técnica, afirmam especialistas consultados pela Folha.
O modelo aprovado pela Câmara é similar ao adotado na Alemanha, onde os carros adquiridos novos passam pela primeira inspeção após três anos de uso. A partir daí, são verificados a cada dois anos.
"Essa periodicidade é utilizada em lugares onde o uso do veículo não é tão intenso como em São Paulo, pois existem alternativas adequadas de transporte público e uma cultura de manutenção preventiva dos veículos", diz Alfred Szwarc, consultor e ex-presidente da Cetesb.
O especialista citou Nova Iorque e Cidade do México, onde os intervalos são mais curtos. "Em algumas cidades com altos índices de poluição, a inspeção é anual ou até semestral, o que seria adequado para São Paulo", diz.
Para Francisco Nigro, professor de engenharia da Escola Politécnica da USP, não é possível estabelecer novos critérios sem antes conhecer a real situação da frota.
"Não temos dados sólidos sobre os carros em circulação, e não adianta usar referências de outros países para estabelecer programa local", afirma Nigro, que considera que o processo de medição precisa ser aperfeiçoado.
Em São Paulo e no Rio -onde as vistorias começaram em 2008 e 1998, respectivamente- os índices de emissões são medidos por meio de uma sonda, que lê os gases liberados pelo escapamento.
"A proposta carece de racionalidade", diz Claudio Dall’Acqua, coordenador de projetos da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia, ligada à USP. Segundo ele, o modelo proposto pela Câmara "é prejudicial à população tanto do ponto de vista da saúde quanto pelo lado financeiro".
De acordo com o projeto, as novas regras dependem de estudos técnicos, que ainda não foram feitos, cujos resultados poderão mudar os prazos preestabelecidos.
CARROS NOVOS
Isentar carros novos da vistoria nos primeiros anos de uso é uma prática comum nos países onde há inspeção veicular e é o que acontece no Rio. Contudo, mesmo os carros novos podem apresentar altos índices de emissões.
"Na média de circulação da frota nacional, um carro com três anos de uso terá cerca de 40 mil quilômetros rodados. Se as revisões estiverem em dia, sem problemas", diz Ricardo Dilser, assessor técnico da Fiat do Brasil.
"Porém, combustível adulterado e atraso na troca de peças podem causar danos ao catalisador e poluir mais."
Colaborou EDUARDO GERAQUE