“Inovar para despoluir o rio Pinheiros” – Folha de S.Paulo
abr 08, 2013 Por rnsp-admin Em Histórico
STELA GOLDENSTEIN E CELSO MORI
Há três fontes de poluição das águas vastamente desconhecidas. É preciso identificar alternativas tecnológicas de tratamento
A população de São Paulo acompanha com expectativa os sucessivos esforços para a despoluição de nossos rios. Sabe-se que as águas metropolitanas são objeto de ambiciosos planos e investimentos.
Todas as informações oficiais dão conta de que, se nas décadas de 70 e 80 a ênfase dos esforços foi o controle do lançamento de poluição pelas indústrias, cabe agora à Sabesp executar investimentos para garantir a universalização da coleta e o afastamento e o tratamento dos esgotos do conjunto da bacia hidrográfica do Alto Tietê.
Sabemos também que os investimentos programados encontram-se avançados. E que, no caso do rio Pinheiros, a conclusão das obras já previstas garantirá o envio para tratamento na ETE (Estação de Tratamento de Esgotos) de Barueri de parcela majoritária dos efluentes domésticos da bacia do rio Pinheiros.
A ansiedade com que acompanhamos esses fatos tem origem na constatação de que as águas continuam inaceitavelmente poluídas. Pior: está claro que, concluídas as obras programadas, ainda teremos aporte cotidiano de poluição de diversas origens aos nossos rios.
Remanescerão sem coleta e tratamento os esgotos gerados em áreas com padrão de ocupação irregular. Seriam necessárias obras de urbanização prévias para viabilizar a infraestrutura sanitária.
Outras fontes de poluição também terão que ser enfrentadas. Os afluentes do rio Pinheiros, e por consequência suas águas, ainda recebem poluentes diversos, oriundos de fontes difusas, tais como os resíduos sólidos domésticos, os resíduos da insuficiente varrição das ruas e o entulho de construção civil despejado sem controle.
E há, ainda, três fontes de poluição do Pinheiros que são vastamente desconhecidas. Em primeiro lugar, os contaminantes industriais lançados ao solo da região em tempos passados, e que, pelo lençol freático, lentamente chegam aos córregos e rios, apenas parcialmente filtrados em seu percurso pelo subsolo.
Uma segunda fonte pouco identificada é a poluição que chega ao Pinheiros periodicamente, sempre que as águas do rio Tietê são parcialmente bombeadas na direção da represa Billings, por ocasião dos eventos de chuvas mais impactantes.
A terceira fonte de poluição ainda não enfrentada é o significativo acúmulo de lodo que se encontra no leito do rio Pinheiros. Gerado a partir da deposição de material sedimentado por décadas, esse lodo concentra materiais potencialmente danosos, com origem nos efluentes domésticos e industriais, e que tendem a ser disponibilizados para as águas, inclusive pela necessidade de desassoreamento permanente.
Todos esses problemas são agravados pelo fato de que há pouca quantidade de água nesse rio. Suas nascentes são barradas e parcela significativa de suas boas águas são utilizadas, antes que cheguem ao Pinheiros, para produzir energia e para abastecimento público. Com pouca água, o rio não consegue exercer a autodepuração, o afastamento e a diluição dos poluentes…
Percebe-se que os programas já previstos para a despoluição não serão suficientes. O rio continuará poluído mesmo depois de concluídos os investimentos que estão no horizonte. É preciso que se aprofundem os estudos para a identificação de alternativas tecnológicas de tratamento das águas do rio Pinheiros.
Diferentes tecnologias têm sido apresentadas e discutidas, mas não há, ainda, segurança de quais seriam as mais seguras e eficazes. Não se pode mais tardar na análise, no teste, na discussão e nas escolhas para que se inove neste campo!
STELA GOLDENSTEIN, 60, e CELSO MORI, 68, são diretora-executiva e presidente, respectivamente, da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Águas Claras do Rio Pinheiros