Por De São Paulo
O patinete e a bicicleta elétrica dobrável que dividem espaço com prateleiras de livros científicos dão pistas sobre o teor das pesquisas desenvolvidas naquela sala do primeiro andar da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (SP). Após pedalar em dia de chuva para chegar ao laboratório especializado nos custos da poluição atmosférica para a saúde, o pesquisador Paulo Saldiva, do Departamento de Patologia, abre uma planilha no computador com o objetivo de mostrar o que pouca gente imagina quando respira o ar na metrópole. Ele aponta para a tabela e conclui: "Uma redução de 10% na poluição da capital paulista entre 2000 e 2020 evitaria 114 mil mortes por doenças respiratórias e cardiovasculares e um prejuízo de US$ 11 bilhões".
Modelos matemáticos de instituições internacionais balizam projeções que avaliam a relação entre custo e benefício do controle da poluição no Brasil. "O paulistano ganharia em média três anos de expectativa de vida se a qualidade do ar de São Paulo se tornar igual à de Curitiba", ilustra Saldiva, para quem as soluções passam por decisão política.
Os pesquisadores cruzaram mapas globais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para demonstrar que as regiões mais ricas têm poluição do ar menos intensa e as mais pobres registram os maiores índices, em decorrência da falta de investimentos em tecnologia e controle. "São Paulo não segue essa tendência, apesar de ser a capital mais desenvolvida do país e ter uma universidade, a USP, que está entre as cinco instituições que mais pesquisam poluição atmosférica no mundo", revela Saldiva, citando dados da organização Web of Science sobre produção científica. "Pressões econômicas impedem que os padrões de controle evoluam", reforça.
Após seis anos de estudos, o governo estadual decidiu adotar os padrões de qualidade do ar recomendados pela Organização Mundial de Saúde, previsto para entrar em vigor em 2013 com o aperto gradativo dos índices de controle ao longo do tempo.
A poluição do ar em São Paulo tem causado anualmente em torno de 130 mil episódios de afastamento do trabalho em decorrência de doenças, segundo estudo concluído no ano passado pela USP levando em conta a população economicamente ativa. O custo das ausências supera US$ 6,4 milhões por ano. Os resultados subsidiam decisões de investimento em tecnologias, combustíveis mais limpos e políticas públicas para as regiões expostas à poluição.
Um dos últimos avanços foi a redução do teor de enxofre no diesel brasileiro, fruto de novas normas do Conama e de um acordo mediado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente junto ao setor produtivo. A concentração caiu de 1,8 mil partes por milhão para 500 e depois para 50 partes por milhão, a partir de janeiro de 2012. (S.A.)