O Estado de S.Paulo
O problema da reciclagem de lixo na capital paulista, que continua muito acanhada, se arrasta há anos, porque as promessas feitas pelos governantes nunca são cumpridas. O que se faz fica sempre muito aquém das necessidades. Como acontece com todo novo prefeito, Fernando Haddad também acaba de anunciar um projeto ambicioso, que pretende aumentar consideravelmente a reciclagem até o fim do seu governo. A meta fixada por Haddad é passar do atual e ridículo 1,8% para 10% a quantidade do lixo da cidade que é reciclada.
Para isso, a Prefeitura garante que até junho de 2014 serão construídas duas grandes centrais de triagem de material reciclável – uma em Santo Amaro, na zona sul, e outra no Bom Retiro, no centro. Mais duas deverão ser entregues em 2016 – em São Mateus, na zona leste, e na Vila Guilherme, na zona norte. Cada uma delas terá capacidade de processar 250 toneladas por dia. Hoje, as 20 pequenas centrais existentes processam diariamente 240 toneladas, o que dá uma ideia do avanço que representará a entrada em funcionamento daquelas quatro megaunidades, se tudo correr como previsto.
Pelo contrato que têm com a Prefeitura, as empresas Loga e Ecourbis, encarregadas da coleta de lixo, deveriam construir mais 17 pequenas centrais de triagem. Elas firmaram com a Secretaria Municipal de Serviços um acordo pelo qual aceitam substituí-las pelas quatro grandes centrais. Seu custo estimado é de R$ 6 milhões, com despesa mensal de manutenção de R$ 300 mil, segundo o secretário Simão Pedro. Estuda-se também a construção de mais nove unidades menores.
Essa estrutura, que permite aumentar a capacidade do serviço e a velocidade da coleta, vai criar as condições necessárias para atingir a meta de 10% de reciclagem. Espera-se que em pouco tempo será possível estender a coleta seletiva de lixo aos 96 distritos da capital. Hoje ela está presente em apenas 72.
Como era previsível, a intenção da Prefeitura de aumentar nessa escala a reciclagem do lixo está sendo bem recebida. Mas isso não exclui críticas ao modelo adotado, às quais o governo deveria estar atento. O presidente do Instituto Brasil Ambiente, Sabetai Calderoni, afirma que "a iniciativa é muito boa", mas acrescenta que "o ideal é descentralizar o tratamento do lixo para evitar o custo de deslocamentos pela cidade". Por uma razão muito simples: estima-se que um terço de tudo que é gasto com a gestão do lixo vai para o seu transporte. "Uma central capaz de tratar 250 toneladas de lixo por dia é muito grande. É praticamente o que produz uma cidade de médio porte de 300 mil habitantes. O mais indicado é ter pequenas centrais. Por seu tamanho, São Paulo poderia ter centenas delas", diz Calderoni.
Independentemente dessas diferentes visões de como atacar o problema, o mais importante é que haja a firme determinação de avançar em direção à sua solução. Além disso, deve-se supor que a Prefeitura tenha baseado a sua escolha em estudos técnicos. Até agora, o esforço para aumentar a reciclagem de lixo na capital foi decepcionante. Em 2004, um ano depois do lançamento do Programa de Coleta Seletiva Solidária, que estabeleceu a inclusão de organizações de catadores na administração de centrais de triagem de material reciclável, 15 dessas unidades haviam sido criadas. Em 2005, o contrato de concessão do serviço de limpeza pública previa a existência de pelo menos 31 centrais. Em 2009, esse número foi revisto para cima. Prometeu-se instalar 51 centrais até o fim de 2011. Hoje – resultado pífio – existem apenas 20 centrais.
Estará Haddad realmente disposto a mudar esse quadro? Logo saberemos. Mas seria bom que estivesse. Até porque, além dos benefícios para o meio ambiente, que por si sós justificam a reciclagem, ela traz benefícios econômicos. Segundo cálculos da Secretaria Municipal de Serviços, a venda de material reciclado pode render até R$ 2 milhões por mês. É por essas duas razões que ela avançou tanto nos países desenvolvidos.