Das mães que vivem em SP, 43% têm apenas ensino fundamental e renda é de R$ 1.006; já entre mulheres sem filho, 22% possuem a mesma escolaridade e rendimento é quase o dobro
José Roberto de Toledo, Rodrigo Burgarelli e Bruno Paes Manso – O Estado de S.Paulo
Ser mãe em São Paulo não é fácil. Levantamento inédito feito pelo Ibope com base nos dados do Censo 2010 mostra que as paulistanas que já tiveram filhos têm pior escolaridade e ganham menos que as que nunca deram à luz. Essa diferença, segundo especialistas, representa uma das principais angústias que as mães modernas têm de enfrentar não apenas hoje, Dia das Mães.
Fruto de uma parceria entre o Ibope e o Estadão Dados, o levantamento foi feito com métodos estatísticos e de georreferenciamento para associar respostas relativas a maiores de 16 anos do questionário estendido do Censo 2010 aos 96 distritos paulistanos. Ele faz parte da série 96xSP, que traz reportagens detalhadas sobre a cidade e temas como migração, deslocamento e religião na capital.
Os dados mostram que, enquanto 43% das mães paulistanas a partir dessa idade têm apenas o ensino fundamental ou menos, apenas 22% das mulheres sem filhos apresentam o mesmo grau de escolaridade. Na outra ponta, a porcentagem de mães com ensino superior completo (22%) é cerca de metade da das mulheres que nunca tiveram filhos (42%).
Diferenças similares são observadas na renda das trabalhadoras. Em todas as faixas etárias, as mulheres com filhos têm rendimento mensal menor que as sem. A maior diferença existe na faixa etária de 25 a 29 anos – as mães ganham R$ 1.006 e as sem filhos, quase o dobro: R$ 1.905.
"Ser mãe desequilibra", afirma o psicólogo e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Ailton Amélio da Silva. "A mulher é que carrega o fardo de cuidar do filho, por mais que o pai viva junto. A relação é desigual", explica. Para o psicólogo, a pressão existente no mundo atual em relação ao sucesso profissional acaba sendo uma grande fonte de sofrimento para as mães. "Na geração anterior, quando a mãe era a rainha do lar e o pai, o provedor, ela tinha menos liberdade, mas não sofria essa cobrança extra. As mães atuais têm de lidar com os dois problemas." Ele diz que o ideal é que o pai seja atuante e assuma também as tarefas de criar o filho. "Não há nada mais nobre."
Pressão. A assessora de comunicação Fabíola Capalbo, de 35 anos, sabe bem o que é essa pressão. Sem fazer planos e sem namorado fixo, ela se tornou mãe de Gabriel em 2012, quando trabalhava como assessora na Câmara Municipal. Foi dispensada pouco depois de voltar da licença-maternidade e buscou emprego por seis meses até conseguir se recolocar.
Ela diz que sentiu que havia encontrado o local apropriado para trabalhar no processo de seleção. No dia da entrevista de emprego, a pessoa que ficaria com o filho dela faltou. Fabíola ligou para remarcar, mas as donas da empresa autorizaram que ela levasse o filho. "A empresa era de mulheres. Uma estava grávida e me senti bem aceita."
Os pais não lhe deram apoio no início e Fabíola chegou a se mudar. No fim da gestação, a família voltou a apoiá-la. "Ainda existe um forte moralismo na sociedade, mas a maternidade também dá forças e a gente aprende a lidar com isso."