Do UOL, em São Paulo
O aumento da densidade de tráfego de veículos provoca um incremento na taxa de internação de crianças devido a problemas respiratórios na cidade de São Paulo, de acordo com pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. O trabalho do geógrafo Samuel Luna de Almeida mostra que o aumento da frota descompensa os avanços tecnológicos que reduziram as emissões de poluentes nas indústrias e nos veículos, e faz com que o tráfego intenso aumente os riscos para a saúde.
O geógrafo verificou a relação entre as internações por doenças respiratórias em hospitais públicos e privados no município de São Paulo e o volume do tráfego no entorno das residências dos pacientes internados. "A análise se concentrou nos grupos mais vulneráveis a problemas respiratórios, que são as crianças com até 5 anos de idade e os idosos com mais de 65 anos", conta. Entre 2004 e 2006, a Secretaria de Estado da Saúde aponta que 81.033 crianças foram internadas por doenças respiratórias, sendo que em 20.449 casos o diagnóstico apontou relação do problema com a poluição atmosférica, conforme a literatura especializada, sendo considerados pelo estudo. Entre os idosos, no mesmo período, houve 43.937 internações por causas respiratórias e 8.527 apresentaram diagnósticos relacionados com a poluição.
O cálculo da densidade levou em conta o número de veículos, o comprimento e quantidade das vias da cidade. "Com base nesses dados, é possível estimar a área ocupada pelos veículos", afirma Almeida. Estatística de 2011 do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) mostra que São Paulo possui uma frota superior a 6 milhões de veículos e 15 mil ônibus que circulam diariamente em 18 mil quilômetros (km) de vias. "A cidade foi dividida em células de aproximadamente 2.500 metros quadrados (m2), totalizando cerca de 4.000 áreas, para facilitar a identificação das regiões de maior tráfego".
As análises demonstraram que variação positiva de uma unidade na densidade de tráfego causa um incremento de 1,3 na taxa de internações hospitalares por problemas respiratórios em cada grupo de 10.000 crianças. "Entre os idosos, não foi verificada nenhuma relação direta entre o número de internações e o tráfego de veículos", destaca o geógrafo. "A cidade de São Paulo apresenta uma concentração de infra-estrutura e serviços urbanos, na área conhecida como Centro Expandido, o que configura maior adensamento de vias e volume de tráfego nesta área e nos principais corredores de acesso a mesma."
Aumento da frota
Almeida ressalta que a literatura científica comprova que a poluição do ar influencia a incidência de morbidades respiratórias. "Na cidade de São Paulo, houve um recuo na poluição de origem industrial, devido aos avanços na tecnologia de filtros e o processo de desindustrialização vigente", diz. "No entanto, o aumento vertiginoso da frota de veículos mantém a poluição em níveis de risco para a saúde, mesmo com os modelos mais recentes emitindo menos poluentes."
O geógrafo afirma que as internações por problemas respiratórios acontecem em casos com alto grau de morbidade. "Isso ocorre quando os tratamentos em casa, com medicamentos, ou com inalação em unidades de emergência do serviço de saúde, não têm efeito", explica. "Os idosos nas regiões de tráfego mais denso, normalmente as mais centrais da cidade, apresentam melhor nível sócio-econômico, o que aumenta a possibilidade de contornarem o problema sem necessidade de serem internados". A Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que os problemas respiratórios com maior incidência em idosos são doenças pulmonares obstrutivas crônicas, asma e bronquite não especificada como aguda ou crônica.
Nas crianças há maior incidência de asma, bronquiolite aguda e estado de mal asmático. Almeida observa que o organismo mais frágil e o metabolismo mais acelerado das crianças faz com que os tratamentos pré-internação sejam menos eficientes. "Desse modo, eles se tornam mais suscetíveis a serem internados, o que aumenta a influência do tráfego intenso de veículos na ocorrência de problemas respiratórios", observa.
Segundo a pesquisa, há necessidade de maior atenção com o transporte coletivo. "É preciso ampliar a utilização de modais que poluam menos", ressalta o geógrafo. O estudo é descrito na dissertação de mestrado Análise espacial das doenças respiratórias e a poluição relacionada ao tráfego no município de São Paulo, apresentada em 25 de abril. O trabalho teve orientação da professora Adelaide Cassia Nardocci, do Departamento de Saúde Ambiental da FSP.
(Com Agência Usp)