Autor da foto de Vladimir Herzog visita dependências do DOI-Codi

Fonte: Portal da Câmara Municipal de São Paulo

O antigo portão do DOI-Codi é a lembrança mais forte que Silvaldo Leung Vieira possui do local. Em 1975, poucos dias após completar 22 anos e com duas semanas de curso para se tornar fotógrafo da polícia, ele atravessou o pátio da sede das instalações e chegou à sala em que deveria fazer a foto de um cadáver. O que ele acreditava ser parte do seu treinamento acabou tornando-o famoso quase 40 anos depois: o fotografado era Vladimir Herzog, enforcado com um cinto. Era a tentativa do regime militar de comprovar a tese de que ele havia cometido suicídio na prisão.

Silvaldo contou que não sabia quem era Vlado. Ao fotografa-lo, estranhou um suicida cujos pés encostavam o chão, e chegou a comentar o fato com familiares e amigos. Mais informações, Vieira só teve em conversas que escutou de militantes do movimento estudantil da USP: “O nosso curso era no campus e nós frequentávamos os mesmos lugares”, contou. Pouco tempo depois, Silvaldo se mudou para Los Angeles, onde vive até hoje. Entretanto, ao ter sido descoberto como autor da foto de Herzog,  não hesitou em vir ao Brasil e ao DOI-Codi para tentar reconstituir como tudo ocorreu. “Eu me coloquei à disposição e espero que outras pessoas, que sabem mais do que eu, façam isso também”, disse.

O atual Distrito Policial da Rua Tutoia sofreu diversas alterações desde a ida de Vieira ao local. Porém, há algumas pistas para as celas que podem ter sido cenário da foto: a ausência de escadas no trajeto que ele fez pelo pátio, e o formato da janela presente na imagem. “A única coisa que eu lembro é que eu fiquei na porta, não entrei”, disse Silvaldo sobre a experiência, que não durou mais que 15 minutos.

A ida do ex-fotógrafo ao DOI-Codi nesta segunda-feira (27) foi uma atividade da Comissão municipal da Verdade, e ele esteve no local acompanhado de parlamentares. Para o presidente do colegiado, vereador Natalini (PV), o fato de Silvaldo não lembrar exatamente o local da foto não diminui a importância do seu depoimento. “Ele participou do ato e diz que tem certeza absoluta que o Herzog já estava morto antes. Isso o Brasil já sabe, mas é importante ter o registro oficial”, afirmou.

Outras lembranças

Natalini, que ficou preso no DOI-Codi durante a ditadura, lembrou de alguns episódios que viveu por lá. Ele contou, por exemplo, a respeito da “escada da morte”, que separava as celas das salas de tortura. “No pé dela, eles penduraram um sujeito chamado Vieira de cabeça para baixo, ele ficou 24 horas ali, os agentes chutavam a cabeça dele.”

Foi a primeira vez que o vereador visitou o local desde o regime militar. Além de Natalini, Emílio Ivo Ulricht, outra vítima da ditadura, também compareceu e localizou, em uma sala, onde ficavam o pau-de-arara e a “cadeira do dragão”, equipamento que dava choques elétricos nos interrogados. “Pegaram uma espécie de coleira de cachorro, amarraram no meu pescoço e mandaram um carcereiro me levar até o banheiro para me recuperar. Ele me arrastou pelo pescoço, me deu um banho frio, um enfermeiro me deu uma injeção e voltei para cá, arrastado. Quando me soltaram para me colocar na cadeira do dragão, pensei que pelo menos não iria morrer enforcado. Nisso vem pelo corredor o coronel Ustra, ele estava observando as pessoas apanhando nas celas”, relatou. (Thais Lancman)
 
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