Oded Grajew, coordenador da Rede Nossa São Paulo, afirma que desigualdade é o maior desafio para a capital se tornar sustentável
Do Metro São Paulo noticias@band.com.br
“Embora em voga, o conceito de sustentabilidade ainda é pouco compreendido tanto por quem fala sobre ele quanto por quem o ouve.” A afirmação de Oded Grajew, coordenador da Rede Nossa São Paulo – entidade que reúne 700 organizações da sociedade civil –, é um do pontos centrais do New Cities Summit 2013 The Human City, evento que começa amanhã na capital e vai até o dia 6. O encontro, que reúne especialistas em sustentabilidade urbana de todo o mundo, discutirá temas como segurança, transporte, saúde e meio ambiente. Grajew vai falar sobre a importância da mobilização da sociedade civil. Em entrevista ao Metro, ele adiantou alguns pontos da sua palestra.
Qual o maior desafio para a capital se tornar um município sustentável?
Se tivesse que resumir em uma expressão, seria reduzir a desigualdade na cidade. Ela dá origens a praticamente tudo que é insustentável. Não é a única razão, mas está na origem da violência, no problema da saúde, da educação, da mobilidade. Solidariedade é sustentável. Individualismo é insustentável. Sustentabilidade vai além do meio ambiente.
Como o New Cities Summit pode contribuir com essa discussão?
Primeiro, ajudando a visualizar a desigualdade. Ela está expressa em dados, números, pesquisas. A discussão deve identificar onde deveriam estar as prioridades no orçamento público.
Com este encontro, o que a capital tem a aprender?
Temos casos exemplares de cidades que melhoraram. Por exemplo, Estocolmo (Suécia), Copenhague (Dinamarca), Hamburgo (Alemanha), Lyon (França), parte dessas cidades eram as mais miseráveis da Europa no início do século 20. Eles tomaram uma decisão: valorizar a educação, a democracia participativa e uma sociedade menos desigual.
Mas há algo que São Paulo possa ensinar?
Pode ensinar o que não deve ser feito. Pode ensinar como matar um rio e transformar em um esgoto a céu aberto, Pode ensinar como congestionar e poluir uma cidade, como piorar os serviços públicos. Pode ensinar pelo lado negativo, que também é um ensinamento.
As últimas administrações da capital avançaram?
Fizemos uma avaliação da qualidade de vida em São Paulo nos últimos 5 anos. A pesquisa mostra que a satisfação do paulistano com a qualidade de vida tem caído sistematicamente.
Por quê?
Não só em São Paulo. mas no Brasil, a maioria dos políticos, não todos, estão mais a serviço de quem financia suas campanhas eleitorais do que da população. Exemplo: nas marginais foram investidos R$ 2,5 bilhões para alargar a pista para carros particulares. No mundo inteiro se investe em transporte público. Por que fizeram isto em São Paulo?
Quais serão os reflexos para a capital se esta visão não mudar?
Isso aconteceu em Bogotá, Colômbia, durante um tempo. Os hotéis ficaram vazios, ninguém ia, porque tem violência, tem baixa qualidade de vida. A cidade pode ficar sucateada.
Ja existem esses sinais?
Na última pesquisa que fizemos, 56% dos entrevistados declararam que mudariam de cidade.
Você acredita em melhora da qualidade de vida na capital nos próximos anos?
Depende dos prefeitos que vamos ter.
Qual assunto o sr. pretende explorar no encontro?
Mobilização e participação da sociedade.
A mobilização da sociedade tem surtido efeito na capital?
Sim. O plano de metas, que ajudamos a aprovar na Câmara, fez parte da última campanha eleitoral. Ele obriga o prefeito a apresentar um documento que mostra o que vai fazer nos próximos quatro anos. Agora a população tem como cobrar.
Tem esperança que São Paulo se torne sustentável?
Estou esperançoso. Ninguém aguenta mais. A nova gestão aponta nesse sentido, de aumentar a participação da sociedade civil no processo de decisão. São sinais positivos. Vamos aguardar.