Fernanda Bassette – O Estado de S.Paulo
Mais da metade dos prontos-socorros públicos do Estado de São Paulo está superlotada – com macas espalhadas nos corredores -, não consegue transferir pacientes para serviços de referência, tem equipes médicas incompletas e não possui um médico responsável pelo plantão.
A situação precária das unidades de saúde foi constatada após fiscalização do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), entre fevereiro e abril deste ano, em 71 unidades (23 na capital e 48 em 35 cidades do interior) em uma única visita a cada uma delas. A amostra representa 10% do total de prontos-socorros do Estado e o critério de escolha foi o tamanho, a localização e as reclamações. Entre os 23 hospitais da capital, 6 são administrados por Organizações Sociais (OSs).
Um terço dos PSs não faz a triagem com a classificação de risco dos pacientes, o que atrasa o atendimento aos doentes realmente graves. Quase 60% das unidades sofrem com a falta de material básico (como jogos de pinça e aspirador elétrico) nas salas de emergência, que estão inadequadas em 30% dos serviços vistoriados.
Para o Cremesp, esse gargalo é reflexo do subfinanciamento da saúde pública e também da falta de uma rede básica de saúde estruturada e resolutiva, em que os pacientes consigam resolver os pequenos problemas de saúde no atendimento primário perto de casa, evitando idas desnecessárias aos hospitais.
"Os serviços de urgência e emergência são um grande e grave problema de saúde pública. Responsabilizamos as Secretarias de Saúde municipais e a estadual e o Ministério da Saúde pela falta de financiamento e gestão do sistema", diz Renato Azevedo Jr., presidente do Cremesp.
Desumano. O levantamento mostra, por exemplo, que 57,7% dos hospitais fiscalizados possuem pacientes internados em macas no corredor – um dos piores indicativos. O tempo médio de permanência nessas condições é de cinco dias.
Para Gonçalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, essa é uma das consequências da falta de leitos especializados no atendimento de pacientes graves. "Ficar na maca por tanto tempo é desumano. Há locais onde sobram leitos, mas de baixa complexidade."
O médico Bráulio Luna Filho, conselheiro do Cremesp, afirma que há pacientes morrendo em decorrência da precariedade. "Muitas pessoas deveriam ter atendimento prioritário e não recebem, não há recursos técnicos necessários, falta infraestrutura para exames. A população não tem alternativa."
Florisval Meinão, presidente da Associação Paulista de Medicina, diz que os resultados quantificam um problema que se arrasta há muitos anos não só em São Paulo, mas em todo o País. "Essa percepção da calamidade nos PSs existe há muito tempo. A rede básica inadequada se reflete na qualidade desses serviços. E a falta de infraestrutura e de médicos é consequência da falta de investimentos."