Após a redução da tarifa do transporte em diversas cidades, manifestações de massa devem continuar pelo país, com base em reivindicações específicas que digam respeito diretamente à vida dos moradores dos centros urbanos.
A avaliação é de sociólogos, analistas do comportamento popular e ONGs ouvidos pela Folha.
"O que tem sido mais mobilizador são problemas cotidianos urbanos", afirma o sociólogo Dario Caldas, da consultoria Observatório de Sinais, que analisa tendências socioculturais.
Nesse perfil se encaixa a reivindicação pela melhoria na mobilidade urbana –transporte público e individual. "É um problema que afeta a todos. E é um debate que já começou", diz Maurício Broinizi, coordenador da ONG Rede Nossa São Paulo.
Pesquisa feita neste mês pelo Datafolha mostrou que a avaliação do transporte em São Paulo é a pior desde 1987, quando o instituto passou a fazer essa medição.
Manifestação do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi está marcada para hoje, na zona leste da capital, para reivindicar justamente melhorias no transporte público e tarifas menores.
O tema da tarifa zero divide opiniões. Analistas entendem que ele pode não ter muito apoio popular, já que o custo teria de ser dividido.
Mas tanto o sindicato dos metalúrgicos quanto o PSTU dizem que farão essa reivindicação. "Para isso, a prefeitura tem de reorientar a alocação dos recursos da cidade", diz José Maria de Almeida, presidente do partido.
"Só com as obras do entorno do Itaquerão, a prefeitura gastará mais de R$ 300 milhões. O dinheiro daria para manter o preço atual da tarifa por mais um ano."
Na avaliação dos analistas, devem ganhar força os protestos contra os gastos públicos com a Copa do Mundo de 2014, que já chegaram a R$ 28 bilhões (equivalente ao Orçamento federal deste ano com toda a educação básica).
A discussão sobre a participação de lideranças partidárias também promete esquentar. Pesquisa do instituto Datapopular com jovens de todo o país neste mês detectou uma crise de representatividade dos partidos.
"Uma bandeira dos jovens é: ‘partido não me representa’", diz Renato Meirelles, presidente do instituto.
Os protestos também são uma forma de a população mostrar que não basta aumentar o poder de consumo para ser feliz, analisa Caldas.
A crença de que se a economia vai bem, tudo vai bem, não serve mais, diz o sociólogo: "Não é a economia, estúpido. É a política".