“O esporte é subestimado no Brasil”, dizem Ana Moser e Raí no Roda Viva

Do portal da TV Cultura
 
O programa Roda Viva, da TV Cultura, recebeu na noite de ontem (29) dois importantes nomes do esporte brasileiro, Ana Moser e Raí, respectivamente, presidente e diretor da Associação Atletas pela Cidadania.
 
Durante a entrevista, a dupla falou, entre outros assuntos, sobre Copa do Mundo, Olimpíadas e o futuro do esporte no Brasil. Com grandes eventos esportivos na agenda nacional, atletas se mobilizaram para alertar a população e o governo sobre a necessidade de políticas públicas mais eficientes no esporte e sobre os legados que deveriam ser deixados.
 
Por meio da organização sem fins lucrativos Atletas pela Cidadania, atletas e ex-atletas de diferentes gerações e modalidades esportivas vem tentado, há dois anos, chamar a atenção do governo federal e até tentando um diálogo, tendo como base os "Objetivos de Desenvolvimento do Milênio" da ONU.
 
Como não obtiveram êxito, lançaram um manifesto, no qual pedem para serem ouvidos e requerem a criação de um comitê interministerial para a reestruturação da legislação do sistema esportivo nacional e a criação de um Plano Nacional de Esporte, aprovação de legislação que dispõe sobre as condições necessárias para as entidades do Sistema Nacional de Esporte receberem recursos públicos (emenda nº à MP 612 e emenda nº à MP 615) e total transparência dos investimentos e das apurações referentes às denúncias de violações de direitos humanos nos grandes eventos esportivos, como exploração sexual infantil, remoções sociais forçadas, sub-emprego. Confira o manifesto na íntegra!
 
Ana Moser diz que a questão do esporte é subestimada no Brasil. “O esporte pode ter políticas publicas eficientes, como na educação e na saúde”. Raí ressalta que apesar de haver uma conscientização de que o esporte faz bem à saúde, previne doenças e melhora o rendimento, ainda há pouco retorno por parte do governo ao que se refere à estrutura. “Muito se fala dos benefícios que o esporte pode trazer, mas pouco se faz como incentivo. Um exemplo é a valorização de um professor de educação física que não existe. Como a gente pode pensar em Olimpíadas sem repensar o esporte no país”?
 
Ana explica que não estão questionando o calendário esportivo, mas que esses eventos podem servir de um passo para grandes mudanças em sua estrutura de gestão. “A questão é fazer valer todo o seu potencial”.
 
Raí acrescenta que um dos problemas enfrentados no país é a falta de democratização e o mau uso dos recursos públicos em grandes eventos. Para isso: “Democratizar as suas atividades teria que ser uma das prioridades de uma confederação”. Segundo Ana, “quanto menos democrática a gestão, menos democrática a prática do esporte. Para receber recurso público seria preciso adequar a gestão e ter mais transparência”.
 
Presidente da ONG, Ana Moser jogou três Olimpíadas, Seul (1988), Barcelona (1992) e Atlanta (1996), quando a seleção brasileira de vôlei conquistou sua primeira medalha (de bronze), venceu dois Grand Prix de Vôlei (em 1994 e 1996) e entrou para o seleto grupo do Hall da Fama do Vôlei dez anos depois de deixar de ser atleta profissional. Fora das quadras, não deixou de se dedicar ao esporte, mas com outro foco. Em vez de conquistar medalhas, ela luta para que o esporte seja um direito da população. E quer que seja essa a prioridade do Brasil que se prepara para receber as Olimpíadas de 2016.
 
Raí iniciou a carreira esportiva no Botafogo, em Ribeirão Preto, mas dedicou boa parte dela ao São Paulo Futebol Clube e ao Paris Saint-Germain, clube francês. Hoje, fora dos gramados, é um entusiasta da atividade física e do legado esportivo, defendido pela ONG Atletas pela Cidadania, da qual é diretor. No terceiro setor, também é presidente do Conselho Curador da Fundação Gol de Letra, reconhecida pela Unesco como uma instituição modelo. Ainda é sócio-diretor da Raí+Velasco, empresa responsável pela gestão de seus contratos, imagem e negócios.
 
O Roda Viva, apresentado por Mario Sergio Conti, contou ainda com uma bancada de entrevistadores e a participação fixa do cartunista Paulo Caruso.
 
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