“Prefeito de NY faz campanha global na área de transporte” – Folha de S.Paulo

Matt Flegenheimer, do "New York Times"
 
Graças ao prefeito de Nova York, Michael R. Bloomberg, as ruas logo poderão contar com muitas ciclovias. As ruas da Turquia, pelo menos.
 
Também como parte da aposta de Bloomberg de que um bom transporte público desencoraja o uso de carros particulares, o número de corredores exclusivos para ônibus irá aumentar. Isso no Brasil e no México.
 
Bloomberg também conseguiu que câmeras de controle de velocidade fossem instaladas em um importante anel viário: o do Cairo, no Egito.
 
Apesar da frustação em casa, por conta dos legisladores, de um setor de táxis entrincheirado e de uma cidade em que uma simples ciclovia pode inspirar anos de litígio, Bloomberg encontrou sucesso no exterior ao promover e financiar uma agenda de transporte global em seus últimos anos como prefeito.
 
Desde 2007, a fundação Bloomberg Filantropias aplicou mais de US$ 130 milhões em políticas de trânsito e segurança viária em todo o mundo.
 
Ele presenteou crianças com capacetes amarelos em Hanói, no Vietnã, e ajudou a montar uma frota de autorriquixás em Rajkot, na Índia. Pressionou com sucesso a redução do limite legal de álcool no sangue em Guadalajara, no México -onde "tequila e estradas não se misturam", como ele disse em 2011-, e armou policiais no Camboja com bafômetros.
 
Especialistas em políticas de trânsito e saúde pública dizem que Bloomberg talvez seja a principal força no transporte mundial. "Nunca vimos nada parecido", disse o doutor Etienne Krug, da Organização Mundial de Saúde. "Esse é de longe o maior projeto de trânsito internacional já feito."
 
Bloomberg espera provocar grandes mudanças em um curto espaço de tempo, segundo assessores, exibindo sua impaciência característica e uma sede de influência em grande escala.
Sem intervenção, os acidentes de trânsito seriam a quinta maior causa de mortes até 2030, segundo a OMS. A fundação Bloomberg concentrou seus esforços em grandes cidades de dez países -incluindo China, Índia e Rússia-, que representam aproximadamente a metade das mortes relacionadas a acidentes de trânsito no mundo.
 
"Não somos tão ricos quanto vocês em Nova York", disse Eduardo Paes, o prefeito do Rio de Janeiro, onde Bloomberg auxilia a instalação de quatro novos corredores de transporte rápido para ônibus, preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. O exemplo de Bloomberg é tão animador que o Rio de Janeiro decidiu usar outras ideias de Nova York sem a ajuda dele, disse Paes.
 
Frustração
 
Em Nova York, porém, Bloomberg muitas vezes se frustrou em relação a transportes.
 
Sua proposta de cobrar mais dos motoristas para dirigir nas partes mais movimentadas da cidade não deu certo. O plano de uma frota quase uniforme de táxis amarelos foi invalidado no tribunal, apesar de a cidade ter aprovado um novo conjunto de regras em junho na esperança de reanimá-lo.
 
Às vezes, sua frustração transparece. Em maio, segundo um processo movido contra ele por um queixoso no caso dos táxis, Bloomberg ameaçou: "Quando eu deixar o cargo, vou destruir sua indústria"
 
(Inicialmente Bloomberg disse que não se lembrava da conversa, mas pareceu estar se referindo ao episódio dias antes de o processo ser iniciado.)
 
Em março, quando ficou claro que o momento para as câmeras de controle de velocidade havia estagnado na câmara estadual, Bloomberg atacou os legisladores, culpando-os pessoalmente pelas futuras mortes de crianças devido à velocidade no trânsito. Três senadores que ele mencionou votaram mais tarde a favor da lei.
 
Em outras cidades americanas, a marca do transporte de Bloomberg é menos pronunciada, por enquanto.
 
Ele projetou sua filantropia como uma extensão de suas iniciativas locais. Invocou recentemente o trabalho de sua fundação em uma entrevista coletiva, elogiando a aprovação da lei das câmeras de velocidade, em junho, para a cidade de Nova York. Em um discurso em 2011, Bloomberg citou as "ilhas" expandidas de NY, suas novas placas de trânsito e a indústria de ciclotáxis melhor regulamentada, ao explicar suas metas de trânsito mais amplas.
 
"Nosso histórico de melhorar a segurança em Nova York me encorajou a tentar copiar esse mesmo sucesso em todo o mundo", disse na época. "A segurança nas estradas não tem sido tipicamente uma prioridade, mas o número de vidas que poderiam ser salvas é incrível."
 
Há muito tempo, ele se orgulha particularmente da queda do número de mortes no trânsito na cidade durante seu mandato, embora as 274 mortes relacionadas ao trânsito em 2012 tenham sido o maior número desde 2008.
 
Tropeços
 
A filantropia do prefeito sofreu ocasionais bloqueios no exterior, mas alguns tropeços foram compreensíveis. Depois de instalar as câmeras de velocidade, entre outros esforços, a fundação suspendeu as operações no Egito por causa da rebelião política. "A polícia estava ocupada demais com outras coisas", disse o doutor Krug.
 
Na Índia, onde a equipe de Bloomberg avaliou cerca de 4.200 quilômetros de estradas de alto risco para potenciais aperfeiçoamentos de segurança, as leis sobre uso de capacetes pareciam difíceis de aplicar sem provocar tensões religiosas, disse o doutor Krug. Em comunidades com grandes populações sikh, alguns moradores interpretaram as leis como uma discriminação contra os que usam turbantes.
 
Mas, em muitas regiões, Bloomberg deu passos rápidos. Em Suzhou, na China -onde mais da metade das hospitalizações ligadas ao trânsito foram causadas por choques com bicicletas elétricas, segundo a fundação-, autoridades do programa ajudaram a traçar novos regulamentos para esses veículos. No Vietnã, o uso de capacetes por motociclistas mais que duplicou, para 90%, desde que Bloomberg e os parceiros da fundação ajudaram a aprovar uma lei nacional. A fundação estima que seus esforços vão poupar pelo menos 13 mil vidas em um período de cinco anos.
 
Para Bloomberg, o trabalho forneceu uma útil credencial para citar durante disputas locais, como a sobre o uso de capacetes no novo programa de compartilhamento de bicicletas em Nova York.
 
O governo já apoiou uma lei de capacete obrigatório para ciclistas, mas, desde então, resistiu aos pedidos para exigir o equipamento. (As autoridades disseram que os capacetes obrigatórios diminuem a opção pela bicicleta.)
 
Questionado no ano passado sobre essa posição, o prefeito apresentou seu trunfo: "Bem, veja", disse ele, "lembre-se de que minha fundação defende a segurança no trânsito".
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