Fonte: CarbonoBrasil
Autora: Jéssica Lipinski
Algumas iniciativas recentes têm procurado incentivar a cultura da bicicleta no Brasil. Uma delas é a marca Respeite um carro a menos, que está ganhando espaço principalmente nas ruas do Rio de Janeiro. A empresa desenvolve placas de material pet reciclado que podem ser colocadas em bicicletas e outros meios de transporte, e que mostram mensagens de apoio ao transporte alternativo.
Para adquirir uma plaquinha, basta entrar no site da empresa e montar sua placa com as centenas de modelos, cores e ilustrações. As plaquinhas custam em torno de 25 reais, e, nos primeiros 12 meses do projeto, mais de três mil já foram vendidas, sendo que mais de 800 foram para fora do estado do Rio de Janeiro.
Segundo Fred Sampaio, um dos idealizadores da iniciativa, há toda uma ideologia por trás da criação e da utilização das plaquinhas de representar e estimular a mobilidade sustentável, principalmente a bicicleta.
“A educação e o hábito para o uso da bicicleta são pontos fundamentais para a evolução da mobilidade na cidade e decidimos começar essa aventura através de uma plaquinha feita em material reciclado e que tem um incrível poder de segurança, sinalização e o melhor, de despertar sorrisos no meio do estresse do trânsito”, observa Sampaio.
O criador explica que a ideia surgiu da vontade de encontrar uma solução que pudesse compartilhar entre ciclistas, motoristas e pedestres a necessidade de respeito às leis de trânsito. No início, eram 20 opções de placas; atualmente são mais de 350.
A ideia deu tão certo que, em aproximadamente um ano, a marca já é economicamente sustentável, e aumentou ainda mais as opções para os clientes, oferecendo também camisetas com as mensagens. Além disso, o projeto também tem a participação expressiva do público nas redes sociais: a página do Respeite no Facebook já tem mais de 12 mil ‘curtidas’.
E os idealizadores acreditam que a iniciativa de fato incentiva o uso da bicicleta e de outros transportes alternativos, e que, além disso, é uma oportunidade de negócios. “A bicicleta é um meio de transporte que já foi adotado pelas pessoas e carece apenas de dois importantes aspectos: estrutura e educação. Todo tipo de iniciativa que possa influenciar positivamente nesse contexto é bem-vinda e representa não só uma oportunidade de contribuir para a população, mas também de se desenvolver profissionalmente.”
Nesse mesmo sentido, o projeto Bike Anjo também oferece uma alternativa simples e eficaz para impulsionar o uso da magrela como transporte: ciclistas mais experientes se oferecem para ajudar pessoas que desejam se locomover com bike transmitindo noções de segurança no trânsito, conhecimento sobre todos os itens das bicicletas e também sobre a escolha de trajetos de mais seguros.
A iniciativa, do ciclista João Paulo Amaral, surgiu em São Paulo, em dezembro de 2010, e hoje já está presente em mais de 40 cidades no Brasil e também em alguns outros países. O auxílio compreende todas as etapas do processo de utilização da bicicleta como transporte: desde ensinar a pedalar até se comportar no trânsito, passando também pela compra de uma bicicleta.
O trabalho é voluntário e, de acordo com Guilherme Lima, bike anjo em Florianópolis, qualquer pessoa ou empresa que se identifique com o projeto é bem-vindo. Lima afirma que, depois que muitos ‘protegidos’ aprenderam com eles a andar de bike, passaram a usar mais a bicicleta e até a participar de movimentos ciclísticos.
“Não só acreditamos que temos ajudado a estimular as pessoas a andarem mais de bicicleta, como já comprovamos isso na prática. Diversas pessoas que aprenderam conosco hoje são parceiras de pedaladas e também dos movimentos ciclísticos de Florianópolis, como a Bicicletada Floripa”, declarou o bike anjo.
Também preocupada em melhorar as condições de mobilidade dos usuários de bicicleta, a ONG Via Ciclo é mais um dos atores que buscam tornar as bikes uma alternativa para o transporte urbano.
A ONG, que também atua em Florianópolis, foi fundada em maio de 2001 por um grupo de ciclistas para suprir a falta de uma entidade da sociedade civil que pautasse a questão da democratização da mobilidade urbana.
Desde então, a Via Ciclo promove algumas atividades, principalmente passeios ciclísticos, para chamar a atenção do governo e da sociedade civil para os problemas da mobilidade urbana, em especial com relação ao uso das bicicletas.
Daniel Costa, atual presidente da ONG, acredita que muitos ciclistas apoiam as ações e conquistas da Via Ciclo, mas que ainda falta estímulo à cultura da bicicleta como meio de transporte, principalmente pelo fato de a utilização do automóvel ser mais estimulada.
“As maiores dificuldades ainda estão no paradigma e cultura do automóvel, promovida pelo marketing sobre a população, o que acarreta na priorização de investimentos e utilização maciça do transporte individual motorizado”, alerta Costa.
O resultado é que, com a falta de investimentos para o desenvolvimento de infraestrutura para outros tipos de transporte, como ciclovias, no caso das bicicletas, a maioria da população acaba não utilizando essa opção, até por considerar arriscado. Costa também ressalta a falta de integração da bicicleta com outros modais, como os ônibus, o que também contribui para que o transporte ciclístico não seja incentivado.
“[Florianópolis] tem uma demanda reprimida de 74% das pessoas que gostariam e querem utilizar a bicicleta em seus deslocamentos urbanos, e que não fazem uso desse veículo pela insegurança com a falta de infraestrutura, e principalmente pela falta de respeito ao Código de Trânsito Brasileiro, sendo que as elevadas velocidades permitidas aos motorizados de transitar nas vias urbanas são fator preponderante nos sinistros de trânsito. Uma frase exemplifica essa triste realidade: ‘Andar de bicicleta não é perigoso, perigoso é como se permite conduzir motorizado em nossas ruas’”, lamenta o presidente da Via Ciclo.
“As bicicletas são a resposta de grande parte do problema de mobilidade urbana nas cidades. Todos os principais especialistas mundiais em mobilidade urbana ressaltam isso. No entanto, enquanto ainda tivermos prefeitos e governadores que apenas pensem a cidade para carros (e que continuem investindo dinheiro público somente em elevados, alargamentos e duplicações de vias, sem priorizar o transporte público e sua integração com bicicletas), e não para as pessoas, ainda passaremos um bom tempo fazendo mais do mesmo. Para todas as pessoas que não compactuam com esse modelo ineficiente do século passado e querem um modo permanente de qualidade de vida, não só nas férias e não só para lazer, mas diariamente, nós estaremos sempre ao lado para ajudar”, conclui o bike anjo Guilherme Lima.