“São Paulo testa ônibus que ‘fala’ e flagra quem invade a faixa” – Folha de S.Paulo
set 16, 2013 Por rnsp-admin Em Histórico
Por André Monteiro
A Prefeitura de São Paulo começou a testar pelas ruas da cidade um modelo de ônibus tagarela e dedo-duro.
Desde meados de julho, 5 das 1.318 linhas da cidade foram equipadas com aparelhos inteligentes que oferecem novos serviços ao passageiro e também podem ajudar o poder público a operar o sistema.
Entre os equipamentos estão alto-falantes ao lado das portas que informam a linha e o destino final cada vez que o ônibus para no ponto.
Dentro do veículo, a voz (feminina e pré-gravada) informa a próxima parada, como no metrô. O objetivo é melhorar o uso do transporte público por deficientes visuais.
Também há letreiros internos com a hora certa e a próxima parada, internet wi-fi grátis e um conjunto de câmeras de segurança.
A linha com mais equipamentos é a 509M-10, que liga o Jardim Miriam (zona sul) ao terminal Princesa Isabel (centro), com 20 veículos. Só um deles, porém, já tem um conjunto de oito câmeras.
Dedo-duro
Outros aparelhos não são notados pelos passageiros, mas podem mudar a forma de operação do sistema –ou afetar até mesmo usuários de carro que desrespeitam as faixas exclusivas de ônibus.
Na frente do veículo há uma câmera com tecnologia OCR, de leitura automática de placas, capaz de flagrar a invasão desses corredores por outros veículos. Ou seja, é um tipo de "radar ambulante".
A ideia é usá-la para fiscalizar a invasão das pistas exclusivas –mas hoje ainda não está sendo adotada para multas porque depende de aval de outros órgãos de trânsito.
Todos os aparelhos são conectados a um computador de bordo e a um GPS, para envio e recebimento de dados de uma central –a ideia é que tudo seja aproveitado na central de mobilidade prevista pela gestão Fernando Haddad (PT).
Entre os dispositivos conectas há, por exemplo, sensores nas portas que registram o entra e sai no ônibus.
"Hoje a gente sabe quantos passageiros andaram, mas não quantos estão neste momento dentro do ônibus. Com a operação controlada, dá pra saber quais ônibus estão lotados e enviar uma ordem ao motorista de não parar mais", diz Adauto Farias, diretor da SPTrans.
Além das ordens para seguir viagem, esse sistema permite deslocar mais ônibus nos trechos com maior demanda ou então recomendar a motoristas um tempo maior de espera nos pontos –para evitar a formação de "comboios" nos corredores.
Essa comunicação com o condutor é feita por meio de um monitor, pelo qual ele também pode informar problemas no percurso, como alagamentos, acidentes e até assaltos.
"Acho até que não está faltando ônibus, falta transporte. Às vezes tem muito músculo, mas falta um pouco de cérebro", afirma Farias.
Outro dispositivo registra indicadores do motor, como consumo de combustível e se há aceleração ou freada brusca –tudo enviado à central, no mesmo princípio da telemetria usada na Fórmula 1.
Segundo Gilmar Loepper, superintendente de Tecnologia da Informação da SPTrans, os dados podem ajudar a identificar falhas mecânicas e até a má conduta de motoristas, auxiliando orientação e treinamento.
O objetivo da prefeitura é testar os equipamentos e verificar se eles resistem às condições de uso na capital. Caso sejam aprovados, a intenção é exigi-los das empresas dentro da nova licitação do sistema, que foi adiada para 2014.
Os aparelhos estão sendo fornecidos pelos próprios fabricantes, mas um conjunto completo pode custar de R$ 20 mil a R$ 23 mil por veículo. A SPTrans espera que o valor caia com maior escala de produção. Há conversas com fabricantes de países como EUA, Espanha e Coreia do Sul.
A empresa espera ter os primeiros resultados em dois meses, para iniciar os procedimentos de homologação e especificação. "Estamos formatando as ideias e ao mesmo tempo olhando o que há disponível no mercado, para não criar um protótipo ideal que depois ninguém tem", diz Farias.
Recarga
Outro aparelho em teste é um novo modelo de validador (que controla a catraca), com tecnologia que permitirá a recarga de benefícios como o vale-transporte dentro dos coletivos.
"O passageiro encosta o cartão, o sistema checa se há algum crédito, carrega e depois cobra o valor da passagem, tudo em milissegundos", afirma Farias.
O sistema pode ajudar a reduzir custos, pois hoje a SPTrans paga a outras empresas pelo serviço de recarga.
Outra tecnologia, ainda em fase de desenvolvimento, permite colher informações sobre o ponto em cada passageiro entra e desce do ônibus. Ela consiste em um circuito implantado dentro dos cartões do Bilhete Único, cujo sinal é captado por antenas dentro dos ônibus que registram quando o usuário entra e sai.
Os sensores que já estão em teste informam pontos de embarque e desembarque, já essa tecnologia permitiria a criação de estatísticas precisas sobre a origem e destino de viagens –fundamentais para o planejamento de sistemas de transporte.
"Se vai acontecer ou não, é a vida que vai dizer. Mas o desenho é para ter esse tipo de coisa", afirma Faria, que garante que "certamente, ao longo da gestão, os ônibus vão ter um upgrade."