Painel em Estocolmo trará previsões mais precisas sobre aquecimento global e mostrará que a temperatura no mundo continua a subir.
Andrei Netto, correspondente em Paris de O Estado de S.Paulo
Seis anos depois de trazer a público a confirmação de que o homem é responsável ativo pelo aquecimento global, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) volta, a partir desta segunda, 23, a discutir os rumos da vida na Terra. E, em 2013, as conclusões dos experts se reforçam: a temperatura média do planeta continua a aumentar, geleiras estão derretendo em velocidade mais rápida do que o previsto e o nível dos oceanos não para de subir.
A divulgação dos relatórios do IPCC começa na segunda em Estocolmo, com a apresentação do Grupo de Trabalho I, sobre as bases científicas físicas sobre as mudanças climáticas. As publicações continuarão em Yokohama, no Japão, em março, em Berlim, em abril, até o relatório síntese de Copenhague, em outubro de 2014, quando mais de 9 mil estudos publicados em grandes revistas científicas de todo o mundo serão sintetizados em um único documento. No total, terão sido seis anos de trabalho de centenas de cientistas especializados em diferentes áreas da pesquisa da vida na Terra, reunidos no Grupo Intergovernamental de Experts sobre a Evolução do Clima (Giec).
O que a nova edição do IPCC deve provar, em primeiro lugar, é que o trabalho dos cientistas ficou mais exato nos últimos seis anos, um período no qual o lobby "climacético" se organizou, buscando com pinça encontrar as falhas nos trabalhos dos climatologistas. "Haverá informação suficiente para que pessoas racionais do mundo todo vejam que uma ação é necessária quanto às mudanças climáticas", afirmou na sexta-feira Rajendra Pachauri, coordenador do Giec.
Convicção
Em 2007, o IPCC gerou um alerta mundial que resultou em uma mobilização – e um fracasso – sem precedentes de chefes de Estado e de governo na 15.ª Conferência do Clima de Copenhague, em 2009. Então, sua principal conclusão era bombástica: com 90% de certeza, os cientistas afirmaram que a intervenção do homem era, sim, um agente determinante nas mudanças climáticas e na ocorrência de eventos extremos que ameaçam a Terra. Em 2013, essa convicção se aprofunda: agora é de "mais de 95%", segundo o rascunho do relatório, ainda sigiloso, ao qual o Estado teve acesso. "Há alta convicção de que isso aqueceu os oceanos, derreteu neve e gelo, aumentou o nível do mar e mudou eventos climáticos extremos na segunda metade do século 20", diz o texto, referindo-se à ação do homem.
Em grande parte por essa intervenção negativa, dizem os experts, a temperatura na Terra não para de subir. Até o fim do século, ela será no mínimo 1,5°C mais elevada no melhor dos cenários. O novo panorama vai acelerar o derretimento de geleiras no Ártico e na Antártida – o que já acontece. Estudos atuais indicam que a velocidade do derretimento do manto de gelo da Groenlândia (equivalente a 177 bilhões de toneladas por ano) foi cerca de seis vezes maiores entre 2002 e 2011 do que entre 1992 e 2001.
Um dos efeitos colaterais é o aumento do nível dos oceanos, o que gera risco direto e concreto à vida em regiões costeiras do planeta. Graças a novos modelos de projeções e a pontos de observação, em 2013 os cientistas afirmam conhecer melhor a reação de ecossistemas complexos, como os mares, às mudanças climáticas. E, no caso específico, a convicção não é boa: o nível do mar será entre 40 e 62 centímetros mais elevado em 2100 do que é hoje – uma previsão mais exata do que a feita há seis anos, de 29 a 82 cm.
"O relatório de 2007 indicava que o homem desempenhava um papel ativo nas mudanças climáticas. Os novos trabalhos mostram que o impacto da atividade humana não acontece só em termos globais, em geleiras, no nível do mar, mas também regionais, em eventos extremos, ondas de calor, precipitação intensa", explica a paleoclimatologista Valerie Masson-Delmotte, pesquisadora do Comissariado de Energia Atômica da França.
Para José Marengo, diretor do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Brasil, o IPCC de 2013 prova que o entendimento das mudanças climáticas continua a evoluir. "Tudo é consistente com o resultado do relatório anterior. Não há contraposição ou contrassenso em relação ao que já veio à tona."