“Quando o tema é tarifa zero, é essa busca de pelo em ovo”, diz ex-secretário de SP – R7

Lúcio Gregori defende proposta rejeitada nos anos 90; Horário Figueira, da Nossa São Paulo, explicou que não é possível implementar algo como o tarifa zero, uma vez que a cidade não tem estrutura para receber 12 milhões de viagens que são feitas a pé por dia.
 
Do R7
 
São Paulo precisa de um novo modelo para o transporte público da cidade. Isso parece claro para os mais diversos setores da sociedade. Entretanto, a maneira de chegar a essa alteração do quadro de concessões, como estão postas hoje, ainda desperta dissonâncias, como ficou claro na última sexta-feira (27), durante um encontro entre profissionais da área, parlamentares e setores da sociedade civil na Câmara Municipal da capital.
 
Na opinião de Lúcio Gregori, ex-secretário municipal de transportes na gestão de Luiza Erundina (1989 a 1992), a gratuidade do sistema é viável. Na época em que dirigia a pasta, a proposta acabou rejeitada pelos vereadores e desde então, de tempos em tempos, volta à pauta de discussões quando o tema é a tarifa do transporte na cidade.
 
"Quando o assunto é tarifa zero, sempre é essa busca de pelo em ovo. Vão procurar, mas não vão encontrar. Não é que o sanduíche seja de graça, é quem paga o sanduíche. Hoje quem paga é quem não tem alternativa, está cativo do sistema. Sou defensor de impostos progressivos, uma forma robusta de fazer o transporte subsidiado até chegar à tarifa zero."
 
O discurso de Gregori vai de encontro ao que pensa o MPL (Movimento Passe Livre), um dos grupos atuantes durante as manifestações de junho e julho deste ano que tomaram as ruas da capital paulista. Para Monique Felix, representante do Passe Livre, o direito de ir e vir de maneira gratuita é fundamental para a população, mas a discussão precisa ir além disso.
 
"É fundamental o Poder Público discutir o custo operacional e não por passageiro. Esse modelo atende ao lucro dos empresários e não aos passageiros e ao bom funcionamento do transporte coletivo (…). O serviço público não tem restrição de acesso. Ninguém passa no poste de luz e põe uma moedinha."
 
Gregori completou: "É anacrônico que o transporte seja tratado quase como capitanias hereditárias, com esse controle de empresas sobre regiões da cidade por décadas. Se eu pegar um táxi a corrida dá o mesmo preço com uma, duas ou três pessoas dentro".
 
Entretanto, nem todos os presentes no encontro concordam com as teses e opiniões apresentadas pelo ex-secretário e pelo MPL. Horário Figueira, da ONG Rede Nossa São Paulo, explicou que não é possível implementar algo como o tarifa zero, uma vez que a cidade não tem estrutura para receber 12 milhões de viagens que são feitas a pé por dia.
 
O dirigente está mais alinhado com uma das sugestões já feitas pelo prefeito Fernando Haddad, a qual envolve a municipalização da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, imposto sobre a gasolina), imposto que garantiria o subsídio e financiamento de parte do transporte público. E não é só. "O nível de depredação é alto em cidades com tarifa zero."
 
Alguns parlamentares, como o vereador Ricardo Young (PPS), também não acreditam na viabilidade da tarifa zero em São Paulo. Contudo, ele concordar que o modelo precisa mudar, o que vai de encontro à posição de Haddad em ter suspendido o processo licitatório envolvendo as concessões do transporte público na capital, o que estava previsto para ocorrer neste ano.
 
"Temos um sistema mantido por empresas familiares, e com passivos fiscais grandes. Demos a empresas erradas concessão daquilo que é cada vez mais estratégico."
 
Gratuidade para estudantes também gera polêmica
 
Outro tema discutido durante o encontro na Câmara foi a possibilidade de estudantes e idosos terem acesso ao transporte público de maneira gratuita. Enquanto alguns parlamentares, a Rede Nossa São Paulo e Arielli Moreira, da Assembleia Nacional dos Estudantes, se mostraram favoráveis, o mesmo entusiasmo não partiu do MPL.
 
"É um benefício que atende a setores da população, como tentativa de conter certa mobilização. A gente entende que benefício pode ser retirado caso a conjuntura política mude."
 
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