Dada a situação caótica em que se encontra o trânsito de São Paulo, parece natural que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Fernando Haddad (PT) concordem quanto à necessidade de priorizar o transporte público coletivo, em detrimento do individual.
O tema está no centro das preocupações dos paulistanos e repete-se, em diferentes graus de intensidade, nos principais conglomerados urbanos do país. As manifestações de junho, não custa lembrar, surgiram como protestos contra o aumento das tarifas de ônibus e metrô.
Naquela ocasião, Alckmin e Haddad ficaram lado a lado para anunciar a revogação do reajuste de 20 centavos nas passagens.
Também juntos sentiram o desgaste daquele momento. Segundo pesquisa Datafolha do final de junho, passou de 52% para 38% a proporção dos que consideravam "bom" ou "ótimo" o desempenho do governador; o prefeito, no mesmo item, caiu de 34% para 18%. E tudo em menos de um mês.
Sócios no infortúnio e na identificação dos problemas, Alckmin e Haddad divergem, contudo, quando se trata de apresentar propostas para destravar São Paulo –ou, melhor dizendo, cada um tenta puxar a brasa para sua sardinha.
Durante o Fórum de Mobilidade Urbana, organizado por esta Folha e realizado ontem e anteontem em São Paulo, Haddad defendeu as faixas exclusivas de ônibus, principal marca de sua gestão e área de competência municipal. Alckmin, por sua vez, enfatizou a importância de expandir o metrô, vitrine tucana e meio de transporte a cargo do governo do Estado.
Não há, a rigor, oposição entre os caminhos. Se o metrô comporta um número maior de passageiros e é capaz de percorrer grandes distâncias em menos tempo, a construção das linhas é mais demorada e mais cara que a implantação de faixas ou corredores de ônibus.
A exemplo do que ocorreu em outras grandes cidades do mundo, São Paulo, para não ficar virtualmente intransitável, precisará contar com um sistema de transporte coletivo amplo e eficiente –o que significa investir tanto em metrô quanto em ônibus.
Não se trata de demonizar o uso do automóvel individual, mas de reconhecer que a expansão da frota –por vezes incentivada pelo próprio poder público– e a prioridade que já se deu às obras viárias deixaram a cidade perto de seu limite.
Restrições ao carro serão cada vez mais justificadas –e insuficientes. Os paulistanos e os moradores da Grande São Paulo teriam muito a ganhar se houvesse um plano de longo prazo, com propostas conjuntas para ônibus e metrô, capaz de dotar o transporte coletivo da qualidade necessária para que ele seja uma opção atraente.