“Calçadas com problemas são inimigas das pessoas ‘sem-motor'” – Especial Mobilidade Urbana da Folha
out 14, 2013 Por rnsp-admin Em Histórico
Eduardo Geraque e Daniel Tremel
As vias mais utilizadas pelo brasileiro são as mais esquecidas pelo poder público.
Os "sem-motor", aqueles que andam a pé pelas cidades ou optam pela bicicleta, quase sempre correm sérios riscos em seus deslocamentos diários por grandes cidades como São Paulo.
Dados da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) mostram que, considerando todos os meios de deslocamentos, ocorreram 61,3 bilhões de "viagens" em 2011 nas cidades com mais de 60 mil habitantes.
Caminhadas e pedaladas representam 40% do total. Elas somam-se aos 31% de deslocamentos em meios de transporte individual e 29% de viagens em transporte público (ônibus e trilhos).
Uma caminhada mais atenta é suficiente para testemunhar os riscos que correm os pedestres.
No Itaim Bibi, bairro valorizado da zona oeste de São Paulo, por exemplo, nenhum trecho percorrido pela reportagem está livre de falhas.
Na rua Romilda Margarida Gabriel, a calçada não chega a meio metro. Quando há postes, é preciso virar de lado para passar (foto acima).
O calçamento é um problema constante. Irregular, com desníveis e buracos onde o piso se solta, ele obriga o pedestre a olhar sempre para o chão.
Na rua Renato Paes de Barros, incluída no programa Rotas Acessíveis da prefeitura, o cenário muda de figura.
O calçamento de cimento é liso e sem obstáculos. O pedestre caminha sem se preocupar com tropeços.
Mesmo assim, há falhas causadas por consertos feitos por concessionárias públicas.
Outro obstáculo são as lixeiras dos grandes condomínios, instaladas nas calçadas. Algumas deixam a passagem para o pedestre inferior a 1,20 metro de largura.
Trata-se de uma questão de saúde pública. Estudo do do Hospital das Clínicas de São Paulo apontou que, no ano passado, uma em cada cinco vítimas de quedas caíram em calçadas.
Os entorses foram as lesões mais frequentes e fraturas somam 8,5%. Ao contrário do que se poderia esperar, a maior parte dos acidentados calçava tênis e estavam na faixa dos 36 a 50 anos.
A falta de cuidado com o passeio público vem de décadas, na opinião de Marcos de Souza, da ONG Mobilize, que acompanha o problema.
Para ele, houve um erro histórico em São Paulo. "A gestão [das calçadas] tinha que ficar na mão da prefeitura, ou de alguma companhia controlada por ela."
Hoje, os donos de imóveis devem conservar suas calçadas e cabe ao poder público fiscalizar.
No caso das bicicletas, o problema é falta de vias separadas dos demais veículos.
"Sei que a lei não permite, mas utilizo as faixas de ônibus para andar de bicicleta. Moro perto da ponte João Dias [zona sul] e trabalho no Bom Retiro [região central]", afirma Thiago Busse, 34, designer.
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