“Cidade compacta, a chave para reduzir deslocamento inútil” – Especial Mobilidade Urbana da Folha

Urbanistas defendem verticalização em áreas com transporte, mas divergem sobre o melhor modelo.
 
O modelo de cidade espraiada, que concentra trabalho no centro, moradia na periferia e ruas congestionadas, entrou em colapso, mas não há um consenso sobre como reverter essa situação.
 
A divergência surgiu no painel "Políticas de Urbanização", do Fórum de Mobilidade Urbana, realizado pela Folha, que reuniu na última quinta-feira Regina Meyer e Raquel Rolnik, urbanistas e professoras da USP, e o arquiteto Marcio Kogan.
 
Meyer defendeu o modelo de cidade verticalizada como uma maneira de aumentar a população onde já existe infraestrutura. "Os leigos se aterrorizam com a ideia de cidade compacta, mas ela amplia o espaço público. A cidade compacta depende de bons projetos", disse.
 
O novo Plano Diretor de São Paulo, que ainda será votado, prevê a verticalização ao longo dos eixos de transporte.
 
Rolnik contra-argumentou que verticalização não resulta em compactação automaticamente. "A tal da cidade compacta não precisa ser vertical. Em alguns bairros os sobradinhos concentram mais população do que a verticalização. Por que não pode ter vários modelos?".
 
Segundo ela, o novo plano corre o risco de produzir verticalização inútil, por causa do interesse das empreiteiras em construir, sem elevar a concentração.
 
Para Rolnik, a discussão "essencial" deveria ser sobre como criar uma cidade heterogênea, onde diferentes classes sociais convivam na mesma área, como ocorre no Reino Unido e na França.
 
A urbanista afirmou que essa questão só aparece marginalmente no plano diretor.
 
"Não temos coragem de criar áreas heterogêneas", afirmou, brincando logo em seguida com voz de espanto: "Mas meu porteiro vai morar no mesmo bairro que eu!?"
 
Na discussão, Meyer ressaltou o risco de que as áreas industrias de bairros em torno do centro, como Brás e Pari, se convertam em condomínios fechados de até 300 mil m2. "São espaços anti-urbano dentro da cidade".
 
A professora também defendeu a construção de um parque linear em cima do Minhocão, projeto no qual está trabalhando. "Aquilo tem de ser desativado. É uma grande barreira para o desenvolvimento do centro."
 
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