“Empréstimo de bikes em SP ainda é bem menor do que em NY; veja números” – Folha de S.Paulo


Vanessa Correa, para a revista São Paulo, da Folha
 
O que é uma magrela cor-de-abóbora que passa mais tempo parada do que rodando? Uma bicicleta de empréstimo do Bike Sampa.
 
Desde que foi criado, em maio do ano passado, esse sistema público de compartilhamento gerou 366 mil viagens -uma média de dois trajetos por cidadão cadastrado (172 mil no total).
Em Nova York, onde o Citi Bike (modelo equivalente) começou só em maio deste ano, já foram 4 milhões de viagens (uma média de 44 para cada um dos 90 mil usuários).
 
Para não ficar só em exemplos de fora, em Sorocaba, no interior de São Paulo, o Integrabike -inaugurado em maio de 2012- gerou até agora 142 mil viagens (10 por cadastro). E são só 152 bicicletas, contra as 1.160 da capital.
 
São sistemas e cidades diferentes. Nova York é plana, São Paulo é um sobe e desce. Em Sorocaba, a prefeitura paga tudo e define onde ficam as estações. Aqui, há patrocínio do Itaú-Unibanco, e os pontos, escolhidos pelo banco, têm que ser aprovados pelo governo municipal.
O modelo adotado em São Paulo é o de cooperação. Em 2011, a prefeitura divulgou que procurava parceiro para implantar e custear todo o sistema. Só o Itaú-Unibanco se candidatou.
 
Cicloativistas acham que o empréstimo ajuda a estimular a cultura do pedal, mas apontam problemas.
 
Um deles é Aline Cavalcante, 27. Para ela, a prefeitura deveria escolher a localização das estações. "Na periferia as pessoas usam mais bicicleta. Se ficar só em bairros ricos não é transporte, é só sistema de marketing."
 
As "laranjinhas", de fato, ficam concentradas em bairros como Pinheiros, Jardins e Vila Olímpia.
A Vila Mariana, na zona sul, foi o primeiro lugar a ganhar esses pontos. O artista plástico Tony de Marco, 50, que mora lá, passou a usar bike para ir à farmácia e ao mercado, três vezes por semana. Pegou gosto, comprou uma e hoje pedala todos os dias.
 
Agora, diz, vai a lugares onde as bicicletas emprestadas não chegam e sem se limitar ao prazo de meia hora.
 
Para usar o Bike Sampa, é preciso fazer cadastro usando um cartão de crédito (de qualquer banco).
 
As bicicletas são liberadas, na estação, por meio de um aplicativo de celular ou por telefone. Devem ser devolvidas em outro ponto em até meia hora, senão paga-se R$ 5
pela meia hora seguinte. Para pegar outra bici, espera-se 15 minutos.
 
O autor do primeiro manual para ciclistas urbanos de São Paulo, Cléber Anderson, 46, acha que a baixa adesão ocorre pois "a cidade não oferece estrutura de ciclovias e ciclofaixas para o usuário se sentir seguro".
 
Compara o uso da ciclofaixas de lazer no fim de semana: 150 mil pessoas -quase metade de todo o uso do sistema Bike Sampa até hoje.
 
Para o consultor em engenharia de trânsito Horácio Figueira, falta segurança e também um bom estudo de demanda. "Se fizerem entrevistas na estação República, podem descobrir que os universitários gostariam de pedalar até o Mackenzie."
 
O veterinário Celso Atienza Júnior, 39, descobriu que gostaria de pedalar até a academia, perto do parque Ibirapuera. A ideia surgiu na semana passada, após um terminal ser inaugurado ao lado de sua casa, na Aclimação (região central).
 
Expansão
 
O Bike Sampa será expandido em direção ao centro e ao leste. Na periferia, só chegará a Itaquera, lugar dos jogos da Copa. A prefeitura diz ter planos para expandi-lo pela cidade.
Os pontos, afirma o banco, são definidos por critérios técnicos e ficam próximos a lugares de intenso fluxo de pessoas -como estações de metrô e ônibus, universidades e centros comerciais. Nem prefeitura nem o banco responderam por que o sistema não chega à periferia.
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