“Trajeto entre casa e trabalho é pior no Rio que na capital paulista” – Especial Mobilidade Urbana da Folha

André Monteiro e Eduardo Geraque
 
A fama é de São Paulo, mas, contrariando o senso comum, é no Rio que as pessoas perdem mais tempo para ir de casa ao trabalho.
 
Na região metropolitana, são gastos em média 47,3 minutos só no percurso de ida.
 
Mas os paulistas não têm motivos para comemorar, já que levam 45,8 minutos no trajeto, em média.
 
Os cálculos foram feitos a partir de dados inéditos da Pnad 2012 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.
 
A série da pesquisa mostra que, há dez anos, a média era de 42,3 minutos no Rio e 40,6 em São Paulo.
 
Nas duas maiores metrópoles do país, também cresceu a fatia de trabalhadores que perde mais de uma hora por dia no deslocamento.
 
Em 2002, ambas tinham 21% dos trabalhadores nessa situação, índice que subiu para 27% no Rio e 24% em SP.
 
A pesquisa revela que as condições vêm piorando também nas outras metrópoles, com poucas exceções.
 
Em dez anos, a parcela de trabalhadores que diz gastar mais de uma hora no deslocamento diário cresceu 49%.
 
Em 2012, 19% dos trabalhadores das regiões metropolitanas estavam nesse grupo. No resto do país, apenas 5%.
 
Segundo especialistas, o tempo perdido no trânsito afeta a qualidade de vida da população e gera prejuízo.
 
No Rio, a Firjan (federação das indústrias) estima que os congestionamentos custam R$ 42 bilhões por ano, cálculo que leva em conta a renda que se deixa de ganhar e gastos em saúde, por exemplo.
 
A ampliação das zonas metropolitanas -porque o preço da terra expulsou os mais pobres ou porque os mais ricos buscam tranquilidade- explica parte do problema.
 
Para Orlando Strambi, professor de transporte urbano da Poli-USP, os moradores da Grande São Paulo estão evitando os deslocamentos e fazendo menos viagens, porém com distâncias maiores.
 
No Rio, o centro e a zona sul da capital formam o principal polo de empregos e serviços do Estado, o que leva uma massa de trabalhadores a se deslocarem todos os dias.
 
Outra parte da equação está no crescimento da frota em todo o país, sobretudo motos e carros particulares, que aumentou 122% em dez anos.
 
"A mobilidade não melhorou, então mostra que o carro não é solução. Não dá pra passar mais cem anos fazendo cidade só pro carro circular", diz Juciano Martins, do Observatório das Metrópoles.
 
A priorização do transporte público pode melhorar a situação no curto prazo.
 
Mas para reduzir os tempos de viagem, segundo especialistas, a solução são políticas urbanas que evitem os grandes deslocamentos, como levar a oferta de emprego mais perto da moradia.
 
Confira matérias do Especial Mobilidade Urbana:
Compartilhe este artigo