Ana Ignacio, do R7*
Na última semana, Haddad afirmou durante um fórum sobre mobilidade urbana que “toda a superfície de São Paulo é privada”. A avaliação é compartilhada por especialistas em urbanismo e trânsito ouvidos pelo R7.
Mauricio Broinizi, coordenador da secretaria executiva do Movimento Nossa São Paulo e do Programa Cidade Sustentável, elogia a ampliação das faixas exclusivas e argumenta que “o metrô não dá soluções para o curto e médio prazo”.
— Não tem mais jeito. Alguma coisa precisa fluir no trânsito de São Paulo. É preciso reservar essas faixas para os ônibus e carros de emergência. Enquanto isso, tem que ir tocando o metrô. Se puder acelerar, ótimo, mas sabemos que é demorado e caro e que isso vai servir a cidade aos poucos.
O consultor em engenharia de transporte Horácio Figueira concorda que a capital precisa dessa mudança e, para ele, ela acontece tardiamente.
— A gente esperou 40 anos para uma decisão firme e forte de reservar e dar privilégio do espaço viário para o ônibus porque ele é mais eficiente no transporte de pessoas. Não tem outro caminho.
Figueira explica que o transporte individual ocupa 90% da capacidade viária da cidade e realiza 50% das viagens de pessoas. Os outros 50% de viagens sobre pneus (desconsiderando Metrô e CPTM) está nas mãos dos ônibus. Daí, segundo o consultor, a necessidade de priorizar os coletivos.
— O primeiro passo é deixar o ônibus andar. Se a prefeitura dobrasse a frota de ônibus, seria uma burrice. Colocar ônibus vazio na rua para ficar parado é jogar dinheiro no lixo. A faixa exclusiva foi a grande medida para dar uma resposta para a sociedade que é a seguinte: chega de carro. O carro veio e congestionou tudo.
Só o começo
O presidente da Abeetrans (Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito), Silvio Médici, ressalva, no entanto, que medida da prefeitura ainda não é suficiente.
— A simples instalação da via própria para o ônibus não resolve o problema, apenas inicia um processo de solução. Agora, tem que melhorar a qualidade do transporte oferecido e melhorar também o sistema de controle desse sistema. Tem que instalar equipamento eletrônico para poder orientar o usuário do tempo que vai levar o percurso, de quanto tempo falta para chegar um ônibus a determinado ponto. Tem muito investimento a ser feito.
Uma pesquisa Ibope, em parceria com a Rede Nossa São Paulo, divulgada em setembro deste ano, mostrou que 79% dos paulistanos se disseram dispostos a largar o automóvel em troca de transporte público, caso seja oferecida uma boa alternativa. Médici alerta, porém, que essa mudança não será imediata.
— Você só consegue mudar essa cultura a partir do momento em que você oferece sistema que as pessoas começam a enxergar que está funcionando, que tem uma certa qualidade. Automaticamente as pessoas vão mudando seus hábitos. Isso não acontece amanhã, não acontece daqui a dois anos, é uma mudança de cultura.