Psicóloga acompanha há sete anos dia a dia do usuário de transporte público de SP


Por Luciana Quierati

Quando chegou a São Paulo, vinda de Santa Fé do Sul, a psicóloga Priscila Tamis, 31, estranhou a forma como as pessoas se moviam pela cidade. Ora em meio a trânsito carregado, ora dentro de ônibus abarrotados, numa forma alucinada de viver bem diferente da que se leva no interior.

Ela, então, começou a fazer, de maneira informal, anotações e imagens sobre o que via no dia a dia da cidade. Das conversas tidas com outros usuários – ela só faz uso de transporte público em seus deslocamentos -, surgiu a ideia de coletar depoimentos. Sete anos depois, ela mal consegue contar o tanto de falas e fotos que juntou.

Entre o que ela mais ouviu até hoje são críticas à centralização da oferta de trabalho, que faz com que o trabalhador tenha que fazer grandes deslocamentos de casa ao emprego; o sentimento de ‘invisibilidade’ dentro do sistema; e o desejo de ter mais tempo para estudar, ir a um parque, ficar com a família.

"Há pessoas que levam sete horas dentro do transporte público. De casa para o trabalho, do trabalho para a faculdade, da faculdade para casa", se indigna.

A oportunidade de um mestrado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP Leste surgiu e ela levou suas constatações para o ambiente acadêmico. Daqui a uma semana, no próximo dia 25, ela defende a tase da pesquisa "Trajetos na cidade – cartografias de saúde e subjetvidade", com base em todo o material que recolheu.

Ontem (17), Priscila participou do seminário para debate da PEC 90/11 pelo transporte como direito social, realizado na Assembleia Legilativa. Enfrentou a timidez e pediu o direito de subir à tribuna, para expressar sua opinião dirante de toda a experiência dos últimos sete anos.

Confira a seguir um dos depoimentos coletados pela psicóloga. É de uma pessoa que usa o transporte público diariamente para o deslocamento pela cidade:

"[…] você tem que andar e tem que ir… chegava no ônibus tremendo… hoje já lido melhor, mas ao mesmo tempo… acho que me controlo um pouco porque é fácil a pessoa explodir no trânsito ou no metrô. Fico pensando… as pessoas vêm lá de longe, acordam de madrugada… elas ficam nervosas, violentas […] dá vontade de falar: dá o meu espaço! Mas está todo mundo na mesma situação, não adianta sair berrando ou gritando, empurrando, porque não vai mudar. Teria que pensar em outras formas disso mudar… mas é uma coisa que fica dentro… você chega em um lugar e pensa: pronto, cheguei… mas fica uma tensão, uma coisa… […] que parece que tem peso nas costas, uma coisa mais para o lado emocional… pelo menos me afeta muito…".

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