“Dois ônibus até para sair do bairro” – Diário de São Paulo

Moradores de região da Zona Sul contam que para ir a ‘qualquer lugar’ é preciso pegar duas conduções.
 
Por Filipe Sansone
 
O morador da região do M’Boi Mirim, Zona Sul da capital, não sofre com o transporte público apenas por pegar ônibus lotado e muito trânsito para ir e voltar do trabalho. Só para sair do bairro, boa parte dos usuários precisa pegar dois coletivos.
 
O incômodo é tão grande que a população, junto com o MPL (Movimento Passe Livre), organizou no fim da madrugada de ontem, horário que a maior parte das pessoas sai para trabalhar, um protesto que bloqueou a Estrada do M’Boi Mirim por cerca de cinco horas. Somente neste ano, a SPTrans já cancelou 80 linhas, uma delas na via do protesto. Desde 2010, seis linhas que iam para o Centro e passavam pela estrada foram canceladas.
 
A dona de casa Zezita Maria de Oliveira, 49 anos, mora no bairro do Jardim Santa Maria Lúcia, próximo ao final do M’Boi Mirim. Toda a vez que precisa ir à região central, tem de pegar três ônibus, além do Metrô. “Isso tudo demora muito e a gente perde muito tempo. Era melhor quanto tinha uma linha direto para o Centro”, reclamou Zezita.
 
Enquanto o Diário esteve em um ponto de ônibus que há na via, ao lado da Praça Piraporinha, já próximo à Ponte do Socorro, na tarde de ontem, a situação era similar ao de uma avenida movimentada na cidade em pleno horário de pico. Para não ficar parado atrás da fila de coletivos que havia em um cruzamento, um ônibus saiu da faixa exclusiva e seguiu junto com os automóveis, complicando ainda mais o já difícil trânsito da região.
 
“Eu pego o ônibus às 15h normalmente para ir até a Avenida Nossa Senhora do Sabará (na região do Campo Grande, também na Zona Sul) e mesmo nesse horário ele está cheio, apesar de ser no contra fluxo”, explicou o atendente de telemarketing Marcos Vinícius Basto dos Santos, de 19 anos.
 
Ele também tem de pegar dois ônibus no M’Boi Mirim para ir do Jardim Ângela, onde mora, até o trabalho. “Agora, com menos opções de linhas, para quase todo lugar que vou tenho de pegar dois ônibus, no mínimo”, afirmou o rapaz.
 
Os moradores da região também têm de acordar cada vez mais cedo para chegar ao trabalho. “Entro às 6h no Jabaquara (Zona Sul) e, se não pegar o ônibus das 4h30, não consigo chegar ao trabalho”, contou o vigilante Roni Celestino Vieira, de 35 anos. “Não dá para entrar (no coletivo).”
 
80 linhas foram canceladas em 2013
 
Em nota, a SPTrans informou que “entre janeiro e 19 de outubro deste ano perto de 80 linhas foram substituídas (canceladas)”. Ainda segundo a empresa municipal, “um levantamento detalhado desses itinerários está sendo realizado” e,  “no mesmo período, foram realizados 28 seccionamentos, 18 criações de linhas, três unificações, dois prolongamentos, uma fusão e 22 integrações decorrentes da inauguração do Terminal Pinheiros”.
 
Objetivo é reduzir sobreposições
 
Ainda segundo a SPTrans, “a reorganização das linhas   vem ocorrendo de forma gradativa e vai reduzir a sobreposição de linhas”.
 
Opinião
 
Horácio Augusto Figueira, engenheiro e consultor especializado em transportes: velocidade maior no corredor
 
O encerramento ou a quebra de linhas de ônibus precisa ser feito de maneira racional para não prejudicar o passageiro. A única razão para se criar mais de uma linha para o trajeto que antes era feito por um ônibus seria aumentar a velocidade média dos veículos no corredor. Mesmo assim, é preciso calcular que o passageiro pode perder entre dez minutos e 15 minutos para fazer a integração entre os ônibus, por isso o prejuízo é maior para quem faz viagens mais curtas e mesmo assim tem de trocar de coletivo. Em relação à construção de novas vias, não se pode pensar nelas sem ao menos uma faixa exclusiva ou, preferencialmente, um corredor de ônibus para transportar os passageiros. Construir sem faixas de ônibus seria um retrocesso.
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