“Uma jornada de quatro horas de casa para o trabalho não é eficiente e nem humana” – Revista Época

Diretora do New Museum de Nova York, Lisa Philips vem ao Brasil para participar do Ideas City, conferência global que criou para buscar soluções para uma vida melhor nas metrópoles
 
Soraia Yoshida
 
Do momento em que desembarcar em São Paulo até sua volta a Nova York, a americana Lisa Philips vai enfrentar todas as questões que fazem muita gente reclamar da cidade: tráfego intenso, falta de planejamento em obras e problemas gerais de infraestrutura. Também vai se deparar com aquilo que a cidade tem de melhor: sua capacidade de gerar cultura, arte espalhada pelas ruas e gente disposta a fazer algo para transformar São Paulo. Todos esses elementos estarão em discussão de 25 a 27 de outubro, quando acontece o Ideas City, conferência global criada por Lisa Philips para buscar soluções para metrópoles com a influência da arte e cultura. Em sua primeira edição, o evento reúne urbanistas, arquitetos, artistas em painéis e workshops, com abertura de Paulo Mendes da Rocha, no Sesc Pompeia.
 
Lisa é diretora do New Museum de Nova York, mas é como uma pensadora que ela quer ouvir e propor ideias, bem no espírito do tema “Modos de Colaborar”. A conferência, que já passou por Istambul, na Turquia, em 2011, deflagrou uma movimentação pela compreensão e colaboração no uso da arte e cultura pela melhoria da cidade. Aqui, o processo passa também por uma discussão intensa sobre mobilidade urbana, que tem envolvido a prefeitura e grupos ativistas. Para Lisa Philips, é uma discussão mais do que saudável. “O uso da bicicleta como transporte funcionou muito bem em várias cidades”, diz. “Formas de transporte de massa mais limpas e rápidas estão sendo desenvolvidas num momento em que o tempo médio mundial gasto em transporte chega a quatro horas. Uma jornada diária de quatro horas de casa para o trabalho NÃO é eficiente e nem humana”.
 
A questão passa, entretanto, por uma mudança de mentalidade que tem ficado no centro da disputa em São Paulo. Há críticas ao transporte público que têm levado ao aumento no uso de veículos para o transporte até o trabalho. Dados da São Paulo Transporte (SPTrans) apontam para uma frota de 43.509 ônibus na cidade, em março deste ano, contra 5,4 milhões de automóveis no mesmo período. A maioria dos veículos transporta uma pessoa nos horários de pico – causando congestionamentos médios de 96 km. O processo de transformação de mentalidade é tão urgente quanto a ampliação do transporte público. “Para mudar é preciso ter a mente aberta e ser tolerante”, afirma Lisa Philips. “É preciso aprender a trabalhar e colaborar com os outros. Deixar de lado estereótipos e preconceitos é essencial para transformar as atitudes humanas”. Segundo ela, museus e organizações civis podem ser instrumentais para catalisar esse processo de transformação, como Lisa vem pregando desde que passou a comandar o New Museum.
 
O Ideas City foi criado pelo New Museum em 2011 como uma conferência bienal de discussão sobre o futuro das cidades. O museu, que existe desde 1977, é um centro de exposições, simpósios e documentação sobre artistas vivos em todo o mundo e já abrigou exposições de artistas brasileiros, como Cildo Meireles, Rivane Neuenschwander e Cinthia Marcelle. Tudo o que é urbano e criativo está no radar do museu e de Lisa Philips. Ela enxerga vantagens e desvantagens em se morar e trabalhar nas cidades, da mesma maneira que entende o apelo que muitos sentem pela “vida bucólica” do interior. “As cidades são dinâmicas, algo que vem do rico cruzamento de economias, etnias, culturas e pontos de vista em contato nas cidades”, diz. “Morar nas cidades é, de muitas formas, mais eficiente em termos de densidade e uso de energia e mobilidade, já que se faz mais uso do transporte público”. Ela admite, porém, que as cidades do interior oferecem mais áreas verdes em comparação com as grandes metrópoles. “Mas também está distante da experiência e da intensa atividade que se encontra nas cidades”.
 
Sob o tema “Capital Inexplorado”, a edição paulistana do Ideas City conntcom a participação de Teddy Cruz, professor de cultura pública e urbanismo na Universidade da Califórnia; Adam Greenfield, escritor e urbanista que fundou e dirige o Urbanscale; o compositor Miguel Wisnik; Suketu Mehta, escritor e professor da Universidade de Nova Iorque; Jillian C. York , diretora internacional para a Liberdade de Expressão da Fundação Electronic Frontier; e Eva Franch i Gilabert, parceira do Ideas City, e diretora executiva e curadora chefe da Storefront for Art and Architecture, de Nova Iorque e do Pavilhão dos Estados Unidos da Bienal de Arquitetura de Veneza de 2014, entre outros.
 
Tantas cabeças pensantes vão tentar oferecer soluções para São Paulo. Algo que Lisa Philips aguarda ansiosamente, mas sobre o qual não quer se antecipar. Como melhorar a cidade? “Vamos esperar até o final da conferência para responder essa pergunta”, diz.
 
IDEAS CITY  De 25 a 27/11. Sesc Pompeia: Rua Clélia, 93, Pompeia.
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