Horácio Figueira, consultor de Engenharia de Transportes e colaborador da Rede Nossa São Paulo, avalia que reorganização das linhas de ônibus é necessária, mas defende um serviço de integração decente.
Airton Goes airton@isps.org.br
Recentemente a Prefeitura de São Paulo anunciou que pretende reorganizar as 1,3 mil linhas de ônibus existente na cidade. Ao final do processo, que está sendo planejado pela São Paulo Transporte – SP Trans, restarão 900 itinerários, sendo 380 estruturais e 520 locais.
As mudanças começaram em 45 linhas da zona leste, com alterações em algumas rotas e redução de trajeto em outras. Além da falta de informações sobre as alterações em curso, usuários reclamam que estão sendo obrigados a fazer integração com ônibus já superlotados e levam mais tempo que antes para chegar ao destino.
Ao analisar a reorganização do sistema pretendida pela SP Trans e as criticas de usuários, o consultor de Engenharia de Transportes e colaborador da Rede Nossa São Paulo na área de Mobilidade Urbana, Horácio Figueira, se diz favorável ao conceito embutido na proposta da Prefeitura.
“Um ônibus que vai para o bairro não pode passar nas regiões centrais”, argumenta ele, ao explicar porque é necessária a reorganização das linhas. “Você consegue ir do Butantã ao Jabaquara de Metrô, mas tem que pegar três linhas: Amarela, Verde e Azul”, exemplifica o consultor, que complementa: “O conceito [na integração de linhas de ônibus] é o mesmo”.
Figueira, entretanto, defende que “é preciso ter um serviço de integração descente”, com ônibus maiores, “articulados e biarticulados”, circulando em corredores e faixas e com ônibus menores, nos bairros. “Se não tiver isso, é preferível fazer aos poucos [as mudanças nas linhas]”, sugere.
Para o consultor, não tem sentido a Prefeitura tirar a pessoa de um ônibus para colocar em outro superlotado. Daí a necessidade, segundo ele, de ônibus articulados e biarticulados nos eixos estruturais do sistema, para dar vazão à demanda.
No entendimento do colaborador da Rede Nossa São Paulo, a percepção das pessoas é muito importante e precisa ser levada em consideração pela SPTrans. “A integração não pode ser vista como uma penalidade, e sim como um atrativo para o usuário [do onibus]”, justifica.
O consultor propõe várias medidas para facilitar a integração entre as linhas de ônibus e também com o Metrô e a CPTM. “Coloquem o ponto de ônibus, com abrigo, bem na saída [de estações] de trens e metrô”, sugere, citando um exemplo de solução incompleta: “Na Estação Faria Lima, na Linha Amarela, colocaram um ponto na saída, só que não tem abrigo”.
Figueira constata que, atualmente, na maioria das saídas de estações da CPTM e do Metrô encontram-se pontos de taxi, que servem um número reduzido de pessoas. "Enquanto, o ponto de ônibus está a 200, 300 metros dali. Tem que ser o ontrário”, critica.
Outra medida defendida pelo especialista é que os ônibus, que levam os usuários dos bairros para os terminais do Metrô ou da CPTM, funcionem como circular. “Não podem ficar parados 15, 20 minutos [nos terminais], como acontece hoje.”
Ele combate ainda a concepção de que ponto de ônibus não pode ficar perto de esquina, pois atrapalha a conversão dos carros. “Antes havia essa concepção equivocada, que está sendo revista”, acredita.
A ideia dele é reaproximar os pontos das esquinas para facilitar a vida dos usuários do sistema, que terão de andar menos para pegar outro ônibus. “Na esquina da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio com a [Avenida] Paulista, o ponto [na Brigadeiro] está longe da esquina”, cita.
Implantar essas medidas para facilitar a integração dos sistemas, na avaliação de Figueira, é muito importante. “Isso é trabalhar a favor do transporte coletivo.”
Prefeitura vai ter que aumentar frota de ônibus
De acordo com o consultor, a tendência é aumentar a demanda por transporte coletivo. “Quando as pessoas perceberem que, com as novas faixas de ônibus, levam mais tempo para se deslocar de carro do que de transporte público, isso vai ocorrer”, prevê.
Por isso, considera que a Prefeitura precisa ampliar a frota de ônibus. “Vai ter que aumentar, tanto para atender a demanda que já está aí, quanto para atender os usuários de carros que migrarão para o transporte coletivo.”