Jorge Wilheim: BRT é uma questão de gestão e política, e não de tecnologia

Um dos principais urbanistas brasileiros, Jorge Wilheim afirmou na manhã desta quinta-feira (7) em São Paulo, no Fórum da Mobilidade Urbana promovido pela Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e Frente Nacional de Prefeitos (FNP), durante a mesa “Corredores de transporte”, que a implantação de BRT (ônibus de trânsito rápido) nas cidades brasileiras é uma questão de gestão e política, e não de tecnologia.

Segundo o urbanista, é possível implantar o sistema em qualquer cidade, porque existem meios e tecnologia para isso. O problema é o “depois” da implantação, quando da gestão. Porque, como o BRT permite uma melhora no atendimento do serviço de transporte público, aumenta-se também a demanda e a necessidade de mais veículos. Com isso, cresce o interesse das empresas operadoras. “Elas são poderosas, sabemos que existem os cartéis”, alertou.

Outro meio viável aconselhado por Wilheim é o VLT (veículo leve sobre trilho), que, segundo ele, foi esquecido no Brasil. “Aqui se fala em ônibus, trem, metrô, mas no bonde ninguém mais fala, enquanto ele é amplamente usado na Europa”, comentou.

Ele lamentou não ter sido ouvido quando sugeriu, anos atrás, que o VLT fosse implantado na Zona Leste de São Paulo, fazendo a ligação com Guarulhos e a região do ABC, proporcionando a seus moradores mais oportunidades de emprego e, com isso, maior qualidade de vida, uma vez que o tempo gasto com deslocamento seria reduzido. “Na Zona Leste, todas as ligações são leste-oeste, não tem norte-sul. E na Zona Sul, as ligações são norte-sul e não tem leste-oeste”, criticou.

Para o urbanista, a sociedade brasileira vive uma cultura ilusória, porque quer ter carro para desfrutar liberdade, ir aonde quer, com quem quer e quando quer. Só que, quando todos têm o veículo, essa liberdade acaba, porque ninguém consegue se locomover.

Ele defende que a cultura do carro volte a dar lugar à cultura de valorização do espaço público, com a proibição, por exemplo, de estacionamento de carros nas ruas e nos pisos térreos dos edifícios. “É um absurdo o uso do térreo para estacionamento. Esse não é o melhor uso social que podemos ter. Ou o carro desce para o subsolo ou sobe para os andares superiores”, enfatizou, acrescentando que as pessoas precisam apreciar a paisagem, o verde, desfrutar dos espaços urbanos, e não dar de cara sempre com o automóvel.

 

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