Por Mariana Missiaggia
Quando se fala na cidade de São Paulo, a última imagem que vem à cabeça é de um sítio bucólico com ares de interior. Mas eles existem. Os agricultores paulistanos são uma minoria, mas resistem bravamente.
No pedaço de chão que ainda podemos chamar de zona rural paulistana, frutas, legumes, verduras e temperos são cultivados e garantem o sustento de muitas famílias. Hoje, 443 agricultores, dos quais 35 são orgânicos, cultivam sua produção na capital paulista, mas sofrem com altos impostos e a falta de incentivo à atividade.
A região de Parelheiros, extremo sul do município, concentra 72% dos produtores rurais da capital paulista. É de lá que sai boa parte dos produtos vendidos nas feiras orgânicas do Parque da Água Branca, na zona oeste, e do Ibirapuera, na zona sul.
No sítio Pinhal, em Parelheiros, o agricultor Zundi Murakami, de 73 anos, cultiva bananas, brócolis, rabanetes e alcachofras em cinco hectares, desde 2008. Tudo orgânico.
Artesanal
Sua história com a agricultura começou há 20 anos, quando Zundi começou a produzir com o uso de agrotóxicos. Uma viagem ao Japão, porém, mudou o rumo dos negócios do agricultor. O tempo de sua viagem durou o suficiente para que a terra estivesse pronta para receber agricultura orgânica, uma produção quase artesanal.
“Senti que estava na hora de fazer a minha parte. Moro em uma área de São Paulo que ninguém sabe que existe e que é vital para a cidade. Estou ao lado da Represa do Guarapiranga, de onde sai a água que abastece a cidade. Quando isso tudo ficou claro, decidi parar (com os agrotóxicos) e produzir o orgânico”, explica.
Pertinho do sítio Pinhal, a família Iizuka, também de agricultores, trabalha com orgânicos há 30 anos. A produção de alimentos sem agrotóxicos começou depois que algumas pessoas da família contraíram intoxicações gravíssimas devido ao uso de um pesticida. Cenoura, brócolis, tomate e frutas fazem parte da plantação. Agora, por exemplo, é época de laranja, melancia e acerola. Mas as protagonistas são as folhas, como a alface.
Temperos
Em meio ao concreto, duas irmãs também plantam e colhem na Vila Maria, na zona norte. Em busca de práticas mais saudáveis para seus pacientes, a nutricionista Silvia Jeha, proprietária da Sabor de Fazenda, cultiva mais de 90 espécies de ervas e temperos orgânicos ao lado de sua irmã e sócia Sabrina Jeha, 37 anos, herborista.
“Tudo começou como uma alternativa para quem não podia comer sal, mas hoje temos todos os tipos de clientes”, explica Sabrina. O viveiro, que era uma antiga área da família e estava abandonada, hoje parece um grande jardim em meio a uma zona industrial.
Quanto ao fato de produzir em São Paulo, Sabrina não esconde as dificuldades. No entanto, ela não troca o estilo de vida atual e o endereço por nenhum outro. “Produzimos em um lugar muito caro. Na cidade de São Paulo tudo é pago, aliás, muito bem pago, diferente do interior, que possui alternativas naturais. Mesmo sem incentivos fiscais, é único produzir em São Paulo. Ser esse pulmão para tanta gente”, observa Sabrina que, além da irmã, conta com outros seis funcionários.
Marmitas
Nos últimos anos, o alimento orgânico vem ganhando mais espaço. Além das feiras orgânicas espalhadas pela cidade, também é possível ter uma boa alimentação sem sair de casa.
A empresa Comida & Consciência, da empresária Sofia Dobbin, entrega marmitas vegetarianas orgânicas com direito a feijoada de legumes no cardápio.
Na feijoada vegetariana, a carne seca e a costela de porco dão lugar à beterraba, abobrinha, carne de soja, cenoura e salsão. O prato é campeão de vendas na empresa de delivery. Os pratos só levam alimentos orgânicos, leite e derivados.
O tempero também tem um toque diferente: saem os tradicionais alho e cebola e entram o tempero indiano, semente de coentro, pimenta de limão e sal rosa tirado das rochas.
Quem preferir produzir sua própria refeição e também optar pela comodidade pode recorrer à cesta orgânica, da Sabor Natural. Há a disponibilidade de 400 itens. Arroz, café, biscoito, legumes, verduras, frutas, iogurte e queijo são trazidos diretamente do produtor. Todos com a certificação de orgânicos.
