Levantamento mostra que 500 paredões do centro de SP poderiam virar jardins suspensos

Por Ricardo Senra, da Folha de S.Paulo

 

É consenso: há tantas áreas verdes no centro de São Paulo quanto existem peixes no rio Tietê. Mas um paisagista recém-formado de 23 anos jura ter a solução para os 500 tons de cinza que (des)colorem a cidade.

 

Ao lado de arquitetos, engenheiros e artistas, o descendente de israelenses Guil Blanche mapeou exatos 500 paredões vazios nas laterais de edifícios do centro expandido. No lugar de fuligem, infiltrações e pichações, ele propõe jardins verticais gigantes. Cada um deles com mais de dez espécies de plantas.

 

Chamados pelos arquitetos de empenas, esses paredões abrigavam painéis publicitários e literalmente vieram à tona depois da Lei Cidade Limpa (que desde 2007 proíbe propaganda nas ruas de São Paulo).

 

Agora, a instalação dos jardins permitiria trazer ao centro mais de 100 mil m² de plantas (cinco vezes o tamanho do parque Buenos Aires, em Higienópolis) –e sem derrubar nenhum prédio.

 

O que derruba a ideia, dizem os síndicos, é o preço. Com sistema automático de irrigação e fertilização criado pelo paisagista, os jardins custam a partir de R$ 800 por m² de empena.

 

Flores, concreto e vodca

 

O primeiro deles acaba de ganhar forma: com 220 m², um jardim vertical instalado num prédio ao lado do Minhocão foi inaugurado na segunda (9), no largo Padre Péricles, próximo à avenida Francisco Matarazzo.

 

No total, 19 espécies de plantas –muitas floridas, como trapoerabas-roxas e russélias vermelhas– foram plantadas ali.

 

Construído em 15 dias, o jardim foi patrocinado pela marca de bebidas Absolut, que não revela quanto investiu. "Essa é uma das três ações mais caras da empresa neste ano", diz Rafael Souza, 34, gerente da marca.

 

A empresa se compromete a cuidar do jardim vertical por um ano ("mas queremos renovar", diz Souza). Já a Movimento 90º, companhia criada por Blanche, oferece ao edifício garantia de três décadas.

 

"Na verdade foi o próprio condomínio que nos procurou pedindo o jardim", diz o paisagista. "A única pessoa que discordava era uma velhinha do último andar. Não conseguimos convencê-la de jeito nenhum que o jardim não atrai o mosquito da dengue."

 

Segundo Blanche, além do benefício estético, o painel funciona como isolante térmico e acústico e pode reduzir em 30% a poluição do entorno. "Sempre perguntam se traz umidade. Não traz, o jardim fica a quatro centímetros da parede", diz.

 

Corredores verdes

 

Só nas margens do elevado foram mapeadas 140 empenas aptas a receber a folhagem. Ali perto, na rua da Consolação, existem 25. Na rua Augusta são pelo menos 40.

 

A partir do projeto-piloto, a ideia agora é criar corredores verdes –sequências de jardins verticais cobrindo diversos prédios da mesma avenida.

 

O investimento para o jardim não precisa necessariamente sair do bolso dos condôminos. "É possível fazer vaquinhas na internet ou procurar apoio de empresas que estejam a fim de melhorar a cidade", sugere Blanche.

 

No caso da Absolut, a contrapartida foi a instalação da frase "Transform Today" (algo como "transforme o hoje") no topo do jardim. O termo é usado nas campanhas da marca.

 

Questionado se a frase fere a Lei Cidade Limpa, Jorge Eloy Gomes Pereira, coordenador de planejamento e desenvolvimento urbano da subprefeitura da Lapa, responsável pela região onde o jardim foi instalado, disse que "vai verificar a existência de autorização para o anúncio".

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