Regiões hoje subutilizadas, como os eixos da Avenida Jacu-Pêssego, na zona leste, e da Marginal do Tietê, podem ser transformadas em novos polos de desenvolvimento.
Por O Estado de São Paulo
Em 2044, centro, Paulista e Berrini não deverão ter, sozinhas, o papel de polos de comércio e finanças da cidade. A Prefeitura de São Paulo espera que, daqui a 30 anos, regiões hoje subutilizadas, como os eixos da Avenida Jacu-Pêssego, na zona leste, e da Marginal do Tietê, estejam transformadas em novos polos de desenvolvimento. Um dos projetos mais ambiciosos é o Arco Tietê, que prevê mudanças no uso e ocupação do solo dos bairros ao longo do rio. Hoje, o eixo concentra 12,5% do total de empregos da cidade e apenas 6% dos seus habitantes. A ideia da Prefeitura é equilibrar a relação morador/trabalho.
"Queremos reequilibrar a cidade e torná-la mais homogênea. Não temos de trazer todo mundo para os bairros mais privilegiados. A gente tem é de levar a cidade para todos os bairros", diz o secretário municipal de Desenvolvimento Urbano, Fernando de Mello Franco. "O poder público deve prover infraestrutura, equipamentos públicos e facilidades onde a cidade é mais precária." A previsão é que a região do Arco Tietê receba, até 2044, 70 mil moradias de interesse social e tenha 770 mil moradores.
Especialistas concordam com a redistribuição da população – e vão além: defendem descentralizar a arrecadação. "Cada bairro deveria ficar com parte da arrecadação obtida na própria região. Essa retenção territorial pode ser usada para melhorar cada lugar, sem tanta intermediação", defende o ativista cultural José Luiz Goldfarb. "Em média, uma subprefeitura de São Paulo tem população maior do que 95% das cidades brasileiras", analisa Oded Grajew, coordenador da Rede Nossa São Paulo. "O ideal seria que cada uma fosse considerada uma cidade em si, com estrutura completa – hospital, escola, parque – e maior autonomia." Justamente a tendência que, eventualmente, inspiraria os bairros verticais de 2054.
Na zona leste, a proposta é levar mais empregos a uma região que já tem um grande número de moradores – 3,9 milhões, de acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "No entorno do estádio Itaquerão, um empreendedor privado deve criar 50 mil empregos ao longo dos próximos anos. Também estamos em conversa com setores produtivos, entre eles industriais, que estão estudando a possibilidade de instalar uma nova indústria no eixo da Jacu-Pêssego. Se a ideia se concretizar, a Prefeitura reafirma a intenção de estabelecer uma série de incentivos fiscais e urbanísticos, para que se consolide a oferta de emprego nessa região", afirma o secretário.
Para que novos polos de desenvolvimento surjam na cidade, porém, Franco ressalta a necessidade de investimentos em transporte coletivo. "Na revisão do Plano Diretor, que vai estruturar todo esse processo, uma das propostas é dar incentivo ao desenvolvimento de áreas a partir dos eixos de mobilidade, seja metrô, trens ou BRT (corredor de ônibus de maior capacidade). Se a gente acelerar uma rede de transporte coletivo, ela, por si só, já será um incentivo à criação de novos negócios, comércios e, consequentemente, empregos."
Para o secretário de Estado dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, no que depender da expansão da rede de metrô e trens, o desenvolvimento de novas regiões deverá, sim, acontecer até 2044. "O que estamos fazendo é dar força à infraestrutura. Agora, é preciso agilizar a força na questão urbana, no uso mais inteligente e mais racional do solo, com mais investimentos."
Matéria publicada originalmente no caderno especial do Estado de S.Paulo "Para que lado vai São Paulo nos próximos 40 anos?", em comemoração aos 460 anos da capital paulista.