Por Lucar Sampaio, da Folha de S. Paulo
Em meio à maior estiagem que se tem registro, moradores de cidades do interior paulista como Campinas, Piracicaba, Limeira e Rio Claro estão sob o risco de enfrentar um racionamento de água ainda neste mês.
A mesma situação é vivida em São Carlos e Descalvado, na região de Ribeirão Preto.
Ontem, o volume de água armazenado no sistema Cantareira, que abastece 8 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e 5,5 milhões na região de Campinas, chegou a 21,4% da capacidade, o menor patamar em uma década.
Em Campinas, a terceira maior cidade paulista, o racionamento é tido como "inevitável" por autoridades locais se não chover nos rios da região até o dia 20.
"Estamos muito preocupados com essa situação", diz o diretor-presidente da Sanasa (empresa de água de Campinas), Arly de Lara Romêo.
"É uma situação equivalente à pior estiagem de todos os tempos, que foi em 1952, no inverno", confirma Francisco Lahoz, secretário-executivo do PCJ (consórcio das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí). "Só que em pleno verão."
Segundo Lahoz, para quem a situação é "extrema", o volume das chuvas está entre 50% e 70% abaixo da média histórica desde setembro. "Estamos pedindo para as pessoas economizarem 50% do consumo", afirma.
O volume do rio Piracicaba tinha ontem apenas 10% da média histórica para fevereiro, e o famoso "véu da noiva" do rio, que chega a transbordar na cheia, era um amontoado de pedras.
"Nunca vi o nível do rio tão baixo", disse Olásio Cardoso, 60, funcionário do aquário da cidade. "Os mais velhos comentam que a última vez que ficou assim foi há 90 anos."
Nos rios Atibaia e Jaguari, que são abastecidos pelo sistema Cantareira e juntos formam o Piracicaba, a situação é semelhante. Ontem, eles estavam com 18% e 33% do volume das médias históricas.
A Sabesp, que administra o Cantareira, anunciou no sábado que vai dar desconto de até 30% aos usuários da região metropolitana de São Paulo que reduzirem o consumo a partir de 20% (em relação aos últimos 12 meses).
Não está prevista, no entanto, a extensão do benefício para Campinas.
Na Grande São Paulo, a concessionária do sistema evita falar em racionamento. Em comunicado veiculado na TV, no entanto, a empresa pede a "colaboração" de moradores contra o desperdício.
Especialistas também afirmam que, se não chover dentro da média histórica em fevereiro e março, um rodízio de água pode ser decretado em abril. A previsões indicam que o tempo continuará seco nas duas primeiras semanas de fevereiro, pelo menos.
Em Sorocaba, falta água em diferentes pontos da cidade, mas o Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) descarta racionamento.
O problema, que começou no início do verão e levou moradores das zonas norte e oeste a bloquearem ruas em protesto, atinge bairros nobres.
"Muita gente está trazendo o cachorro para dar banho aqui porque não tem água em casa", conta Ana Paula Bezerra, funcionária de um pet shop próximo ao bairro Campolim, na zona sul.
O Saae diz que a empresa não consegue repor a água na mesma velocidade de consumo -que aumentou em ao menos 30% devido ao calor.
Segundo a empresa, estão sendo realizadas obras no sistema de bombeamento, o que deve aumentar a capacidade de distribuição. A previsão é que as obras estejam concluídas até fim de março.
O SAAE diz que, até lá, investe para que a falta de água não ocorra "o dia todo" e reforçou o abastecimento nas áreas mais atingidas.
Colaboraram NATÁLIA CANCIAN, de São Paulo, e GABRIELA YAMADA, de Ribeirão Preto.