Frota de ônibus da cidade de São Paulo é a mais velha em 8 anos

Por André Monteiro, de São Paulo

Dos veículos que ligam bairros ao centro de São Paulo, 6% têm mais de dez anos e não poderiam mais circular.

À espera de licitação da gestão Haddad, adiada após protestos, empresas reduzem os investimentos.

A frota de ônibus do transporte público de São Paulo atingiu a maior média de idade dos últimos oito anos.

Segundo a SPTrans, empresa da prefeitura responsável pelo transporte, os 8.760 veículos do sistema estrutural (que liga os bairros ao centro) hoje têm média de idade de 5 anos e 8 meses, maior número desde 2006, quando era de 5 anos e 11 meses.

Até o dia 15, o cadastro municipal registrava 542 ônibus -6% dessa frota- que já passaram do limite de dez anos de fabricação e, pelo contrato com a prefeitura, não poderiam mais circular.

Outros 210 veículos que rodam entre os bairros, ou 3% do total, também passaram da idade máxima.

A Folha flagrou um desses veículos circulando. Empresários de ônibus admitem que eles continuam em operação.

A gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) diz que as empresas que descumprem a regra são multadas.

Segundo especialistas, a idade dos ônibus tem impacto no conforto dos passageiros e aumenta a probabilidade de interrupção do serviço devido a falhas nos veículos.

O tempo de fabricação também aumenta os custos operacionais, já que veículos antigos consomem mais combustível e exigem mais manutenção e troca de peças.

O principal motivo que freou a renovação da frota foi a suspensão da nova licitação do transporte.

As empresas dizem que não estão investindo porque não sabem por quanto tempo continuarão operando. Os contratos com a prefeitura venceram no ano passado.

A gestão petista chegou a abrir uma licitação, mas a adiou por causa dos protestos de junho. Foram assinados contratos emergenciais por um ano, até julho.

Mas Haddad não irá lançar um novo edital antes de ser concluída uma extensa auditoria sobre os custos do sistema, o que acaba de começar.

O trabalho será feito pela consultoria Ernst & Young, contratada por R$ 4 milhões. Pelo contrato, são 12 meses, mas a prefeitura pressiona para que os resultados sejam entregues em seis meses.

As empresas também temem renovar os ônibus -que podem custar até R$ 1 milhão- por causa de incertezas que pairam sobre as finanças do sistema.

Esses investimentos são incluídos no cálculo da remuneração das empresas pela prefeitura, que já terá que arcar com subsídios da ordem de R$ 1,6 bilhão devido ao congelamento da tarifa e ao bilhete único mensal.

Haddad esperava usar parte da receita do aumento do IPTU para o setor, mas o reajuste foi barrado na Justiça.

 

Outro lado

Prefeitura diz que inspeciona veículo antigo

A prefeitura afirma que irá multar as empresas que usarem ônibus com mais de dez anos de fabricação e que está levantando quantos dos 752 veículos cadastrados nessa situação estão circulando.

Segundo Adauto Farias, diretor da SPTrans, na última semana foram excluídos do cadastro cerca de 50 veículos.

A SPTrans também determinou a realização de inspeção de segurança nesses veículos a cada 60 dias.

Francisco Christovam, presidente do SPUrbanuss (sindicato das concessionárias), afirma que as empresas estão renovando a frota, mas enfrentam dificuldade porque os financiamentos exigem mais tempo de contrato.

Desde 2013, o sistema recebeu 1.207 veículos novos.

Farias diz que a prefeitura estuda uma forma de garantir a renovação da frota mesmo diante do curto tempo de contrato e sem envolver mais recursos do poder público.

 

Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo

Compartilhe este artigo