Por André Monteiro
Após pressão de moradores e comerciantes, a gestão Fernando Haddad (PT) admitiu ontem que vai estudar a possibilidade de desistir da construção de um corredor de ônibus na avenida Nossa Senhora do Sabará, na zona sul de São Paulo.
O corredor faz parte do pacote de 150 quilômetros prometidos por Haddad até 2016, que também enfrenta resistência em outras regiões.
Ontem, um grupo contrário ao corredor lotou o plenário da Câmara durante audiência sobre o projeto de lei do governo que relaciona 60 vias que precisarão ser ampliadas para as pistas exclusivas –entre elas a Nossa Senhora do Sabará.
Usando faixas e camisetas, eles disseram que o estudo ambiental do corredor informa 484 desapropriações, muitas delas em imóveis comerciais, o que pode afetar cerca de 20 mil empregos.
O movimento sugeriu alternativa usando a avenida Miguel Yunes, paralela à Sabará. Pela proposta, o corredor já previsto na Miguel Yunes seria estendido até o terminal Santo Amaro por meio de vias como a avenida das Nações Unidas.
"Ninguém aqui é contra corredor, contra a mobilidade, mas queremos discutir o projeto e apresentar alternativas", disse Carlos Augusto Rocha, morador da região.
Segundo os moradores, a proposta deles é mais barata –as vias, mais largas, precisam de 37 desapropriações– e mantém acesso rápido dos ônibus à região.
Lógica
Após ouvirem os moradores, representantes de Haddad disseram que a prefeitura vai estudar a proposta.
O vereador Arselino Tatto (PT), líder do governo, afirmou ter ficado "entusiasmado", mas defendeu a aprovação do projeto em primeira votação e a inclusão de eventuais mudanças na forma de substitutivo ou emenda antes da segunda votação.
O governo tenta acordo para colocar o projeto em votação na próxima semana, mas os moradores pedem outra audiência pública na região.
O secretário Fernando de Mello Franco (Desenvolvimento Urbano) disse que a ideia dos moradores "parece ser bastante lógica" e prometeu discuti-la com a Secretaria de Transportes, responsável pelo plano de corredores.
Segundo o secretário, é necessário saber se a alternativa dá conta da demanda de passageiros e qual seria o impacto para a rede de transporte com eventual desistência do corredor na Sabará.
Moradores e comerciantes do Itaim Paulista (zona leste) também protestaram ontem contra o projeto de corredor na estrada Dom João Nery e sugeriram transferi-lo para o córrego do Lajeado, o que reduziria as desapropriações.
Franco diz que o número exato de desapropriações para os corredores ainda não está definido, e que o projeto de lei em discussão tem o objetivo de reservar o espaço necessário para futuras melhorias viárias.
"A construção de corredores, assim como de creches ou obras de drenagem, infelizmente pressupõe desapropriação porque o município não tem terras, mas tentamos ao máximo reduzir", disse.
No caso dos corredores, o secretário afirma que o Plano Diretor em discussão na Câmara vai gerar benefício aos proprietários de imóveis desapropriados ao elevar o limite máximo de construção.
Proprietários, porém, dizem não ter dinheiro para obras nem interesse em vender o limite não usado ao mercado imobiliário.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo