Nível do Sistema Cantareira cai a 16,1% e entidade cobra medidas da Sabesp

Por Rodrigo Gomes

Rede Nossa São Paulo entregou documento exigindo plano de ações da companhia e informações sobre o andamento do Programa Corporativo de Redução de Perdas de Água da Sabesp, iniciado em 2009

O nível das águas no reservatório da Cantareira continua em queda e renovou hoje (6) o nível mais baixo da história. Responsável por abastecer as zonas norte, leste e central da capital paulista e mais dez cidades da região metropolitana de São Paulo, o sistema conta agora com 16,1% da capacidade total, apesar da forte chuva que atingiu a cidade na última sexta-feira (28). Ainda assim, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e a Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) descartam a possibilidade de racionamento de água.

Desde maio passado, o reservatório do Sistema Cantareira apresenta queda contínua em seu nível. O índice de chuvas ficou abaixo da média em oito dos últimos dez meses. Somente em junho e julho – períodos de estiagem, em que o volume de chuvas é pequeno – as águas superaram a média mensal.

Especialistas ouvidos pela RBA afirmaram que as ações de redução do consumo deveriam ter sido iniciadas em dezembro, mas apenas em 20 de janeiro o governo estadual começou a falar no assunto. E apenas no início de fevereiro Alckmin anunciou uma medida para diminuir o consumo de água do sistema Cantareira: descontos de 30% no valor da conta de água para quem reduzir 20% no consumo.

Outra medida seria a captação do chamado volume morto da represa: a água que fica abaixo da atual capacidade de captação da Sabesp. Na última quinta-feira (27), a Sabesp anunciou a compra de 20 bombas d'água, no valor de R$ 80 milhões, para captar essa água. O início das obras é esperado para os próximos dias e a previsão é que a captação comece em 60 dias. Mas será preciso um tratamento mais complexo devido à alta concentração de resíduos na região mais profunda da represa. Com isso, a água só deve chegar à população a partir de junho.

A medida mais drástica, o racionamento de água, seria uma saída para evitar o colapso do Sistema Cantareira. Regulando a água disponível a determinados horários e por certo tempo, poderia evitar desperdício e manter o nível do reservatório por mais tempo.

Porém, o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga, alerta que esta é uma medida perigosa. O problema é que encanamentos não são totalmente vedados, ou seja, sempre há saída de água. Com a redução da pressão no encanamento de casas e prédios devido a períodos de desabastecimento, essa água que se acumula do lado de fora pode retornar para o encanamento, muitas vezes trazendo substâncias tóxicas que colocam em risco o organismo humano.

No geral, o sistema tem perdas graves, ocasionadas por fissuras e falhas nas tubulações de distribuição de água. Em São Paulo, a Sabesp admite perda de 25% do volume de água enviado aos consumidores, em todo o estado, por problemas nas tubulações. No entanto, segundo o Instituto Trata Brasil, que desenvolve o ranking anual do saneamento básico no Brasil, a empresa paulista perde cerca de 30% do volume de água produzido.

Se considerada somente a região metropolitana de São Paulo, a situação é ainda pior. Segundo relatório do Plano Diretor da Macrometrópole, elaborado pelo Departamento de Água, Esgoto e Eletricidade (Daee) no ano passado, a região perde 38% da água que deveria abastecer as cidades. Justamente na área atendida pelo sistema Cantareira.

Cobranças

No último dia 21, a Rede Nossa São Paulo, que agrega 600 organizações não governamentais, entregou carta à diretora-presidenta da Sabesp, Dilma Pena, reivindicando medidas emergenciais e de médio prazo para evitar perdas de água tratada.

O documento da Rede Nossa São Paulo destaca que o índice de perdas em outras cidades do mundo é bem inferior: Chicago (EUA), 2%; Amsterdam (Holanda), 3%; Frankfurt (Alemanha), 3,3%; Tóquio (Japão), 3,6%; Barcelona (Espanha), 6%; Pequim (China),12,5%, e Mumbai (Índia), 13,6%.

A organização cobra os resultados de um convênio firmado com o governo japonês, em 2012, que previa repasses de US$ 440 milhões para acelerar o Programa Corporativo de Redução de Perdas de Água da Sabesp. "Além de providências técnicas para a manutenção e funcionamento adequados do sistema, há que se implantar campanhas permanentes para o uso racional e responsável da água", diz o documento.

O programa foi criado em 2009, com o objetivo de reduzir as perdas de água em vazamentos e ligações clandestinas – atualmente em 25% do volume total de água enviada aos consumidores, segundo a Sabesp – para 13%, até 2019.

Além disso, pretende trocar 875 mil ramais prediais – ligação de água da rua até o hidrômetro –, substituir 1,6 milhão de hidrômetros, trocar 674 quilômetros de redes de água – do total de quase 66 mil quilômetros, e fiscalizar outros 150 mil quilômetros em busca de vazamentos ainda não detectados.

No entanto, no andamento do programa, o índice de perdas para 2013 deveria ser de 20%, segundo relatório da 24ª Audiência de Sustentabilidade – Redução de Perdas, de 21 de julho de 2010. Bem inferior aos 25% que a companhia admite ter perdido no ano passado.

Matéria originalmente publicada no Rede Brasil Atual

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