Por Caio do Valle
Estatísticas internas da empresa mostram o crescimento das panes que duram, no mínimo, seis minutos até serem resolvidas. No ano passado foram registrados 113 'incidentes notáveis', ante 55 ocorridos em 2009, um aumento de 105%
Aumentou o número de falhas graves no Metrô de São Paulo, revelam dados dos últimos cinco anos da operação do sistema. Se em 2009 a média era de uma pane com grande transtorno aos passageiros a cada seis dias, em 2013 esse intervalo baixou para três dias – duas por semana.
As estatísticas internas da empresa, coletadas e divulgadas pelo Sindicato dos Metroviários, indicam que, em todo o ano passado, o Metrô registrou 113 incidentes notáveis – termo técnico para designar panes que duram, no mínimo, seis minutos até serem resolvidas. Ao longo de 2009, houve menos que a metade desse total: 55. Ou seja, o aumento foi de 105%.
Desde então, ano a ano, o que se notou foi um crescente contínuo de falhas, ao contrário do que ocorreu no período anterior, que teve índices estáveis e até em queda (veja quadro). Os números não levam em conta a Linha 4-Amarela, administrada pela concessionária ViaQuatro, que foi procurada, mas não divulgou quantos problemas o ramal registrou.
Mas o que poderia explicar a ascensão dos defeitos? Para o consultor Horácio Augusto Figueira, mestre em transportes pela Universidade de São Paulo (USP), dois aspectos devem ser considerados. O primeiro é a tecnologia dos trens e demais equipamentos, que sofrem desgastes com o tempo. O outro se trata da interação desse material com os passageiros, que se torna maior com o crescimento da demanda, um fenômeno intensificado nos últimos anos.
"A interação com o usuário acaba provocando tipos de falhas que não havia antes. Porque ações como segurar portas dos trens enquanto elas estão fechando são hoje muito mais comuns, em virtude da própria superlotação." Segundo ele, nos horários de pico, o enorme volume de pessoas nas plataformas também ampliou os riscos de queda na via, que também pode ser computada como "índices notáveis". Esse problema, no entanto, se resolveria com a instalação de portas de plataforma, antiga promessa do Metrô que ainda não saiu do papel.
Desde agosto de 2011, o supervisor de informática Adilson de Paula Silva, de 34 anos, mantém um perfil no Twitter (@UsuariosMetroSP) para informar os passageiros sobre as condições do metrô paulistano. Um dos tipos de publicação mais corriqueira é justamente sobre as falhas no sistema.
Silva critica o fato de as panes menores, mas abundantes, não serem registradas como parte dos incidentes que atrapalham a vida das pessoas. Ele conta que falhas nas portas dos trens – muitas não fecham ou abrem direito – e recolhimento de composições estão entre os problemas recorrentes. Além disso, em sua percepção, as falhas de fato têm aumentado nos últimos meses.
"Pela minha experiência, a Linha 1-Azul já está se comparando em quantidade de panes à Linha 3-Vermelha, que é a mais superlotada", afirma.
Linha 4
O tuiteiro disse ter notado mais falhas na Linha 4-Amarela nos primeiros meses deste ano. "Não tem falhas diariamente, mas tem mostrado uma alteração em relação ao ano passado."
Quem usa metrô todos os dias relata problemas nas demais linhas. "Antes eu fazia o percurso entre a Penha e a Barra Funda em 30 minutos. Hoje, com falhas frequentes, levo o dobro", diz a auxiliar de cozinha Daiana Barbosa Rodrigues, de 30 anos. Já a estudante Luciana Gonçalves, de 17, afirma que passou a evitar o metrô. "Em alguns casos, prefiro até pegar mais ônibus", garante.
CPTM também registra aumento
Na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), a situação não foi muito diferente do que no Metrô. Por meio da Lei de Acesso à Informação, o Estado obteve dados internos que mostram que, no ano passado, o número de ocorrências notáveis foi de 36, ante 28 de dois anos atrás. Com isso, os usuários tiveram de enfrentar, em média, uma pane séria a cada dez dias.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo