Por Márcio Pinho e Letícia Macedo
A Prefeitura de São Paulo registrou em janeiro e fevereiro a menor frota de transporte coletivo dos últimos cinco anos na cidade. A média mensal de ônibus e micro-ônibus no início de 2014 foi de 14.764 veículos, 208 a menos que o verificado no mesmo período do ano passado, quando a capital somava 14.972 ônibus. O número é o mais baixo desde 2009, quando São Paulo reunia 14.748 veículos.
Os dados estão no site da SPTrans, órgão da prefeitura que administra o serviço de transporte coletivo na cidade, e dizem respeito ao total de ônibus cadastrados, incluindo os de reserva.
A SPTrans afirma que a redução na frota não significa que os ônibus estão mais lotados. Isso porque o número de coletivos articulados aumentou de 914 para 1.324 nos últimos anos.
Cada um dos veículos transporta até 128 pessoas. Segundo a prefeitura, 111 ônibus foram incendiados em São Paulo desde o ano passado, o que prejudicou o número de coletivos cadastrados. A administração municipal citou ainda a criação de 318 km de faixas exclusivas na capital, o que "otimizou" o uso do transporte coletivo, já que, com mais velocidade, os ônibus fazem o trajeto mais rapidamente.
Muitos usuários do sistema, porém, reclamam que a criação das faixas exclusivas não foi acompanhada de um aumento na quantidade e na frequência de coletivos. Algumas pessoas apontam linhas superlotadas e atribuem o fato ao corte de linhas feito pela prefeitura no redesenho que começou em 2013.
De acordo com a SPTrans, 141 linhas foram substituídas e 31, seccionadas (divididas em trechos). A maioria (84%) das substituições ocorreu na Zona Leste da capital, onde a concessionária Itaquera Brasil foi descredenciada após seus funcionários terem feito várias paralisações. A administração municipal, no entanto, não fala em linhas "excluídas", e destaca a criação de mais 73 itinerários.
A SPTrans diz que o objetivo das mudanças é melhorar o transporte público na cidade. "A diminuição de sobreposições de trajetos e a criação de linhas mais curtas fazem parte de medidas com essa finalidade", informou o órgão municipal em resposta aos questionamentos do G1.
Além disso, a SPTrans afirma que os passageiros de trajetos alterados tiveram, de modo geral, "benefícios com a redução no tempo de viagem em boa parte das linhas". E que continua monitorando as alterações feitas.
No entanto, após uma reunião pública entre o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, e o Movimento Passe Livre (MPL), em fevereiro, a SPTrans resolveu suspender algumas mudanças nas linhas de ônibus. Integrantes do MPL criticaram a reorganização que vem sendo realizada, alegando que ela serve apenas para aumentar o lucro das empresas, já que os empresários do transporte coletivo ganham conforme o número de passageiros transportados. Ao final do encontro, Tatto prometeu não fazer novas alterações sem falar com a população antes.
Redução da frota
A redução da frota de ônibus em São Paulo entre 2013 e 2014 é pequena em termos percentuais (cerca de 1,5%). Já o número de passageiros transportados em média por mês foi de 230 milhões entre janeiro e fevereiro deste ano, 5,4% a mais que no mesmo período de 2013.
A principal diminuição na frota se deu em relação aos ônibus oferecidos pelas concessionárias, de tamanho convencional e articulados. Em janeiro e fevereiro, foram contabilizados 8.776 veículos desse tipo em média, contra 8.988 nos primeiros dois meses de 2013. Já o número de micro-ônibus circulando na cidade sofreu uma pequena alteração.
A manicure Elisabete da Silva, de 52 anos, mora na Vila Clara, na Zona Sul, e teve que alterar sua rotina após a extinção de uma linha que ligava o Jardim Selma ao Terminal Princesa Isabel, no Centro.
"Agora, eu preciso andar pelo menos 15 minutos até a Avenida Cupecê para pegar o Largo São Francisco", contou.
Elisabete também tem a opção de pegar dois ônibus. "Posso pegar um até o Detran e outro até a Brigadeiro, mas não compensa. Eu fico 1h, 1h10 dentro do Largo São Francisco. Se eu pegar dois ônibus, eu não pago passagem, mas demoro 1h30 no mínimo", calculou.
A agente de relacionamento Cinthia Coelho, de 25 anos, disse que a linha que liga o Jardim Jova Rural até Santana, na Zona Norte, ficou muito mais lotada após o fim da linha Nova Galvão 172T.
"A minha linha depois disso ficou uma 'maravilha'. Nunca consigo me sentar. É comum a gente ficar pendurado na porta. Tem ônibus que vem tão cheio que nem para no ponto", disse.
Já o despachante Edson Ribeiro dos Santos, de 38 anos, gostou da mudança. Ele disse que a restruturação nas linhas na região de Aricanduva, na Zona Leste, e os corredores de ônibus trouxeram uma economia de tempo para chegar ao trabalho, em Congonhas, na Zona Sul de São Paulo.
"Para mim, teve uma melhora. Eu pegava três ônibus para ir ao trabalho, agora são dois. O trajeto que levava até 2h30 para eu fazer, agora consigo em até 1h30", contou. Atualmente, Edson toma um ônibus até o Terminal Parque D. Pedro II e outro até Congonhas.
Matéria originalmente publicada no portal do G1