Governador apresenta esforço obtido no Sistema Cantareira como positivo, mas números mantêm previsão de que principal fonte de abastecimento do estado esteja esgotada no segundo semestre.
Por Diego Sartorato
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou hoje (31) que a Sabesp vai ampliar para 31 cidades da região metropolitana de São Paulo o programa de desconto de 30% na conta de água para quem consumir 20% menos na comparação com o mês anterior ou com o mesmo mês do ano passado. Assim, as únicas cidades da região metropolitana que não contarão com o programa são Juquitiba, São Lourenço da Serra, São Caetano do Sul, Santo André, Mauá, Guarulhos, Santa Isabel, Guararema e Mogi das Cruzes. A medida, anunciada no dia em que o Sistema Cantareira atingiu novo recorde negativo, com apenas 13,4% de sua capacidade disponível, visa a garantir que os reservatórios não cheguem a secar completamente neste ano.
"Tivemos uma excelente resposta dos consumidores e, por isso, estenderemos o bônus a todos os municípios operados pela Sabesp na Grande São Paulo", disse Alckmin. Segundo o governador, a região reduziu o consumo em 4 mil litros por segundo desde o início do programa, em fevereiro, quando todas as cidades diretamente alimentadas pelo Sistema Cantareira passaram a oferecer os descontos. Com a inclusão de novas cidades, o plano do governo estadual é que o volume economizado passe a 6 mil litros por segundo. Atualmente, o Sistema Cantareira provê a região metropolitana com 27 mil litros por segundo, além de outros 3 mil litros por segundo para a região metropolitana da Campinas.
O governador anunciou ainda que, até o momento, 37% dos consumidores ganharam o desconto em sua conta de água, outros 39% reduziram o consumo, mas não atingiram os 20% necessários para receber o bônus, e 24% gastaram mais água.
Apesar do otimismo do governador, a redução de consumo em 6 mil litros por segundo ainda não é suficiente para reabastecer o Sistema Cantareira. O último comunicado do Grupo de Trabalho constituído por Sabesp, Departamento de Águas e Energia, Agência Nacional de Águas e comitês locais de bacias hidrográficas, aponta que o mês de fevereiro terminou deficitário em mais de 10 mil litros por segundo, o que significa que São Paulo consumiu 26 milhões de litros de água a mais do que chegou às represas por meio dos afluentes.
Nos três cenários traçados pelo grupo de trabalho, mantido o nível atual de consumo, o chamado "volume útil" das represas do Cantareira (águas acima da captação mínima das bombas de sucção) estará seco entre julho e setembro deste ano, dependendo das chuvas do período. A partir daí, o governo terá de recolher água com bombas especiais, destinadas a puxar as águas do "volume morto", equivalente a 400 milhões de litros de água.
Também nesta segunda-feira, o comitê PCJ, que compreende municípios nas bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí e também integra o grupo de trabalho do Sistema Cantareira, divulgou nota em que aponta a necessidade de interromper imediatamente o consumo de água a partir do Sistema Cantareira: a sugestão do grupo é reduzir em 50% na região metropolitana de São Paulo e em 30% na região metropolitana de Campinas, para economizar 30 mil litros por segundo.
"Trata-se de um raciocínio radical, porém, por tratar-se do primeiro e terceiro parque industrial do Brasil, representando 14% do PIB nacional, todas as medidas preventivas devem ser utilizadas para que exista um mínimo de segurança e reservas em situações de extrema calamidade", argumenta a nota do Comitê PCJ. O texto ressalta que o corte imediato da retirada de água do Sistema Cantareira daria início a sua recuperação ainda neste ano. Após a seca de 1953/1954, a pior pela qual São Paulo havia passado até a estiagem deste ano, o Sistema Cantareira levou aproximadamente cinco anos para restabelecer seus níveis normais.
Matéria originalmente publicada no portal da Rede Brasil Atual