Por Wanderley Preite Sobrinho – iG São Paulo
Em tempos de racionamento disfarçado de água em São Paulo, a Sabesp (empresa responsável pelo fornecimento de água no Estado) faz as contas para conseguir diminuir os próprios desperdícios, avaliados em 623 bilhões de litros por ano: em resposta à Rede Nossa São Paulo, que pediu informações por meio da Lei de Acesso à Informação, a Sabesp informa que gasta por ano R$ 300 milhões em reparos para conseguir evitar a perda de R$ 2,6 milhões em água.
Os dados, repassadoS ao iG, afirmam que nos últimos cinco anos a companhia gastou R$ 1,5 bilhão para acabar com desperdícios que totalizaram R$ 13 milhões. Esse número equivale à redução anual de 0,4 ponto percentual de perdas.
Diz o texto: “Nos últimos cinco anos foram aplicados, em média, R$ 300 milhões anuais no combate às perdas físicas, que levaram a uma redução média anual de 0,4 pontos percentuais no índice destas perdas. Estimamos que aproximadamente cada 1 ponto percentual de perda física corresponda a um custo médio em torno de R$ 6,5 milhões.”
De acordo com a Sabesp, a maior parte das perdas ocorre nos ramais, que ligam os dutos às residências. Eles ficam enterrados, são muito antigos e difíceis de serem reparados.
Coordenador de projetos do Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), José Cezar Saad explica que custa muito caro efetuar os consertos. “Qualquer intervenção na rede de água, por ser subterrânea, tem um custo muito elevado, principalmente na capital paulista. É preciso parar o trânsito, mobilizar autarquias para fazer a intervenção, o que dispara os gastos.”
Atualmente, a Sabesp deixa vazar pelos canos 20% da água que distribui, índice bem abaixo de outras regiões do Brasil. No Amapá, por exemplo, esse nível foi de 73,3% em 2011, de acordo com o Sistema Nacional de Informações de Saneamento (Snis), do Ministério das Cidades. Pernambuco, com 65,7%, e o Acre, com 64,7%, aparecem na sequência.
“Mas se compararmos aos países adiantados, ainda é um índice muito alto. No Japão, a média de perda fica em torno de 8%.” Na Europa e Estados Unidos, essa taxa varia em torno de 15%. Na cidade americana de Chicago, a perda é de 2%. Em Mumbai, na Índia, perde-se 12,5%, enquanto Tóquio baixou esse índice para 5%.
O especialista acredita que dificilmente São Paulo chegará aos níveis japoneses porque a redução total dos desperdícios custaria muito dinheiro. “Não compensa. É mais barato trazer água tratada de lugares distantes.”
No atual ritmo, a Sabesp levará 115 anos para recuperar o dinheiro investido em um ano de reparo. Programa financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) e pela Agência Japonesa de Cooperação Internacional (JICA na sigla em inglês) preveem gastos de R$ 5,9 bilhões entre 2009 e 2020, data prevista pela Sabesp para a cidade alcançar o índice 16,6% de desperdício.
Matéria publicada originalmente no Último Segundo iG.
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