Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, espera que votação do plano nacional seja feita nesta semana, sob risco de prejuízo para a área
Por Paulo Saldaña – O Estado de S. Paulo
O Plano Nacional de Educação (PNE) chegou ao Congresso em 2010 e, depois de um longo período de debates na Câmara e no Senado, deve ser votado definitivamente nesta semana. É o que espera Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, principal articuladora da sociedade civil no Congresso. A previsão é de que passe na Comissão Especial da Câmara nesta terça-feira, 22, e possa seguir nesta quarta-feira, 23, para o plenário. Por causa do calendário da Copa e das eleições, teme-se que novos adiamentos inviabilizem a aprovação do PNE ainda neste ano – o que seria um prejuízo para a área e um desgaste para o governo Dilma Rousseff (PT).
O que indica que o PNE deve ser votado agora?
Se não votar nesta semana, votam na próxima. Não tem mais por que segurar na comissão especial. O relator já apresentou a terceira complementação do voto, o tema está praticamente esgotado. Tem posição consolidada de votar o texto do relator, ressalvando os destaques. E os destaques podem ser deliberados pela comissão especial.
O texto teve várias alterações. Qual é a versão final em relação ao investimento em educação?
No Senado foi aprovado dinheiro público para educação, que incluía todas as parcerias público-privadas. Hoje na Câmara, é dinheiro público para educação pública, ressalvando os programas que o governo considera essenciais, como ProUni, Pronatec, Fies, Ciência sem Fronteiras. O problema é que estão transformando esses programas em educação pública, e eles não são.
Por que lutar pelos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para educação pública?
É fruto de uma conta. Em 2010, o projeto do governo indicava 7% do PIB para educação. Mas os cálculos só apresentavam a expansão de matrículas, não incluindo padrão de qualidade. O problema é que o Brasil sempre expandiu matrículas sem qualidade. Então, incluímos questões de qualidade, como valorização dos profissionais, todas as escolas com laboratórios, quadra, biblioteca. Uma escola que de fato garanta o ensino e a aprendizagem dos alunos. A luta pelos 10% é pelo padrão mínimo.
Tem um foco grande na valorização do professor?
A gente prevê que a educação básica custe cerca de 8% do PIB. E 80% disso é para a valorização dos profissionais.
Quais as perspectivas de que esse plano seja cumprido?
O plano passado (2001-2010), criado no governo Fernando Henrique Cardoso, foi construído com pouca participação da sociedade. A realidade agora é que a educação se tornou um tema mais importante e esse PNE foi construído com base nessa nova composição de participação social. A cada dois anos, o Inep (instituto do governo) vai ter de apresentar relatório sobre andamento do plano, metas e estratégias. Além disso, agora o custo (político) dos governos pela não implementação do plano será maior do que antes, porque só um terço das metas do PNE passado foi cumprido. Demos um passo além no sentido de ter muita participação social.
Entrevista publicada originalmente no jornal O Estado de S. Paulo.