Nível de armazenamento considerado ideal seria de 43%, mas está em 37% a duas semanas da época de seca. Associações defendem campanha para poupar energia, mas governo teme associação do tema a racionamento
Por Júlia Borba
A pouco mais de uma semana do fim do mês –quando se encerra oficialmente o período chuvoso no país– e diante de reservatórios ainda longe da meta "ideal", especialistas alertam para a necessidade de iniciar campanha por economia de energia.
Segundo boletim do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), o nível médio dos reservatórios de hidrelétricas no Sudeste/Centro-Oeste fechou a semana em 37%. Essa é a área mais importante para geração de energia, pois concentra 70% da capacidade de armazenamento.
Pelos cálculos do governo, o ideal seria fechar este mês em 43%. Patamar considerado razoável para enfrentar o período de seca sem dificuldades em atender a demanda e sem ter de contar muito com o bom desempenho do próximo período de chuvas, que começa em novembro.
Em anos considerados de "boa hidrologia", ou seja, naqueles em que a chuva repõe o nível dos reservatórios, o período chuvoso termina, em abril, com nível de abastecimento nas usinas variando de 70% a 88% no Sudeste/Centro-Oeste.
"Por precaução, um programa de redução do consumo, qualquer que fosse, já deveria ter sido iniciado", disse Alexei Vivan, diretor-presidente da Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica (ABCE) e do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico (FMASE). "Mas estamos em um período eleitoral e há custo em fazer isso."
Segundo Vivan, o governo projetou os piores cenários e viu que é possível chegar ao fim do ano com o nível dos reservatórios em 15%, sem fazer uma campanha. "Essa previsão descarta possibilidade de racionamento",diz.
O presidente da Abrate (Associação Brasileira das Grandes Empresas de Transmissão de Energia Elétrica), José Cláudio Cardoso, também defende economia de energia.
"Nós achamos prudentíssimo que se inicie uma campanha pelo uso racional de energia, porque a situação esta se mostrando crítica. Sabe-se lá se vai chover."
Duas outras associações ouvidas pela Folha, que pediram anonimato, também defendem que a tomada de decisão não seja adiada.
A economia dos consumidores, aliada ao uso contínuo das térmicas, poderia, por exemplo, evitar sobrecarga das máquinas no fim do ano, no fim do período seco.
Política
O próprio diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Romeu Rufino, disse na semana passada que, ainda que chova ao longo dos próximos dias, o nível dos reservatórios não deve mais se alterar.
Segundo a Folha apurou, o temor no Ministério de Minas e Energia é que uma campanha pelo uso econômico da luz seja entendido pela população como racionamento.
A palavra faz lembrar o período vivido em 2001, no governo FHC.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo