Diagnóstico do País mostra crescimento de 8,6% no consumo em 4 anos; média paulista de 192,6 litros gastos supera a nacional
Por Fabio Leite
Apenas uma das 39 cidades da Grande São Paulo registrou consumo de água abaixo da média diária recomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU), antes da crise do Sistema Cantareira. Dados da edição 2012 do Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgoto, divulgado neste mês pelo Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), revelam que, com exceção de Mairiporã, todos os municípios da Região Metropolitana extrapolaram o gasto ideal por dia de 110 litros por pessoa.
Há casos, como o de Mogi das Cruzes, onde o consumo de água diário chegou a 371,2 litros por pessoa, o equivalente a 42 minutos de banho com o chuveiro ligado. Na cidade, 65% da água consumida é captada no Rio Tietê e o restante é adquirido da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) pelo Sistema Alto Tietê. Já na capital, onde o centro, a zona norte e parte das zonas leste e oeste são abastecidas pelo Cantareira, o gasto foi de 190,3 litros por habitante.
O diagnóstico dos serviços de água e esgoto é divulgado anualmente desde 1995 pelo SNIS, com base nas informações fornecidas pelas concessionárias de saneamento de todo o País. Os dados mostram que, só nos últimos quatro anos da pesquisa, o consumo de água per capita na Grande São Paulo cresceu 8,6%: de 146,5 litros para 159 litros em 2012.
Antes da atual crise, 47,3% da Grande São Paulo era abastecida pelo Cantareira, que ontem registrou apenas 9,8% da capacidade, menor nível de sua história. No Estado, a média foi de 192,6 litros por pessoa, também acima da média nacional, de 167,5 litros.
Além da seca mais severa dos últimos 84 anos, o consumo excessivo de água é apontado por especialistas em recursos hídricos como um dos principais vilões da crise de abastecimento. Apenas em fevereiro, quando o Cantareira já estava com 21,9% de volume armazenado em plena temporada de chuvas, foi que a Sabesp, responsável direta pelo abastecimento de 31 cidades da Grande São Paulo, lançou um plano com descontos na conta para estimular a redução do consumo.
Por dois meses, a política de bônus ficou restrita a dez cidades atendidas pelo Cantareira. Segundo a companhia, em março, 81% dos clientes reduziram o consumo – 39% acima de 20%. Outros 19% elevaram os gastos.
Em abril, a empresa ampliou o programa para as demais cidades da região onde opera porque passou a reverter água dos Sistemas Alto Tietê e Guarapiranga, que atendem, respectivamente, 20% e 19% da Grande São Paulo, para socorrer bairros anteriormente atendidos pelo Cantareira.
"A primeira lição que essa crise traz é o reconhecimento por parte da população de que a água tem valor econômico, que é um bem vital para a sociedade, mas finito, e precisa ser usado com parcimônia", avalia o presidente do Conselho Mundial da Água, Benedito Braga. "Somente agora, na iminência de ficar sem água, é que as pessoas começam a entender a essencialidade da água e passam a usá-la com racionalidade."
Perdas. Outro vilão da crise hídrica é o índice de perdas de água na distribuição, ou seja, o volume desperdiçado pelas próprias concessionárias no trajeto entre as estações de tratamento e a caixa d'água dos domicílios. Os dados do SNIS revelam que, em 2012, houve cidades, como Embu-Guaçu, em que 79,6% da água produzida foi desperdiçada antes de chegar ao consumidor.
Na capital, o índice foi de 36,6%, acima da média registrada nas 362 cidades atendidas pela Sabesp naquele ano (33,5%) e abaixo da média nacional (36,9%). As perdas são causadas, principalmente, por vazamentos nas tubulações. Entre as 27 concessionárias que operam nos Estados, a Sabesp está em sétimo no ranking das menores perdas. Os líderes são as empresas Copasa Serviços de Saneamento Integrado do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Copanor) e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), com 23,9%.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo