Órgão gestor do Sistema Cantareira afirma que 368 bilhões de litros da reserva profunda são liberados rio abaixo para as regiões de Campinas
Por Fabio Leite
Prestes a ser captada pela primeira vez na história pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para abastecer a Grande São Paulo, a água do chamado "volume morto" do Sistema Cantareira é a mesma que já é fornecida à população das regiões de Campinas e Piracicaba, no interior paulista, segundo o Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE).
Em ofício enviado no mês passado ao Ministério Público Estadual (MPE), o órgão gestor dos recursos hídricos paulista explicou que 76,5% dos 481 bilhões de litros que são considerados "volume morto", porque estão abaixo dos túneis de captação da Sabesp, fazem parte do "volume útil" que pode ser liberado para a região de Campinas por meio das "descargas de fundo", que são válvulas ou comportas no fundo das represas que controlam as vazões da barragem para os rios do interior. Os promotores questionam a qualidade da água da reserva profunda.
"Entre os mínimos operacionais da Sabesp e essas descargas de fundo há um volume (que é parte do 'morto') de, aproximadamente, 368 milhões de m³ (bilhões de litros), que, para os rios do PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí) é 'volume útil'. Abaixo dessas estruturas de descarga de fundo há, ainda, 113 milhões de m³. Esses 113 milhões são o 'volume morto' para o PCJ", afirma o superintendente do DAEE, Alceu Segamarchi Júnior, no documento obtido pelo Estado.
"Cada uma das quatro barragens, dos Rios Jaguari, Jacareí, Cachoeira e Atibainha, entretanto, tem estruturas de descarga de fundo, que permitem o fluxo contínuo de água de partes mais profundas das represas para jusante, mantendo vazões nos rios", afirma Segamarchi.
É justamente esse "fluxo contínuo" da água na reserva profunda uma das principais garantias de que a água do "volume morto" também tem boa qualidade para o abastecimento público. A captação foi autorizada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), responsável por avaliar as condições da água bruta.
Para o DAEE, sobre o possível risco de contaminação da água por sedimentos concentrados no fundo das represas, cabe à Sabesp e à Vigilância Sanitária avaliar e fiscalizar a potabilidade da água após o tratamento.
Reserva
Segundo o DAEE, a Sabesp vai retirar 183 bilhões de litros do "volume morto" para abastecer a Grande São Paulo. A operação, que é inédita no Cantareira, começa na semana que vem na Represa Jacareí, em Joanópolis. De lá, a companhia prevê retirar 105 bilhões de litros. A partir de junho, a Sabesp diz que estará apta para captar mais 78 bilhões de litros do fundo da Represa Atibainha, em Nazaré Paulista.
Ao comitê que monitora a crise do Cantareira, a Sabesp informou que a reserva deve durar até o fim de novembro. Segundo o secretário estadual de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, o "volume morto" garante o abastecimento sem racionamento generalizado de água até março de 2015.
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo