Controlador-geral de SP dá ultimato a empresas sobre corrupção no IPTU

Em evento para debater a lei anticorrupção, em vigor desde fevereiro, servidor que descobriu a máfia do ISS cobra atitude das incorporadoras para acabar com outras práticas corruptas

Por Bruno Ribeiro

A uma plateia composta por diretores e convidados do sindicato da habitação de São Paulo (Secovi), o controlador-geral do Município de São Paulo, Mário Vinicius Spinelli, afirmou nesta sexta-feira, 9, que as investigações sobre corrupção e sonegação do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) estão chegando ao fim.

Em seguida, cobrou das empresas do setor colaboração. "Até agora, nenhuma procurou a Prefeitura para colaborar com as investigações."

"Nas investigações do ISS (Imposto sobre Serviços) já foram abertos mais de 400 inquéritos contra empresas do setor imobiliário. É impossível que um setor desse tamanho, financiador de campanha, não tenha como procurar as autoridades para denunciar corrupção. Estão esperando o quê?", disse. "As empresas que não colaborarem agora sofrerão as consequências depois."

O evento foi idealizado para ser uma conferência sobre a Lei 12.846, chamada de Lei Anticorrupção, aprovada depois dos protestos de rua do ano passado e que pune empresas que participam de esquemas de corrupção. Mas se transformou em um puxão de orelha coletivo de Spinelli ao setor da construção, representado pelo Secovi.

"Há uma série de empresas que já me procuraram, foram até meu gabinete, para saber como colaborar. Nenhuma é do setor imobiliário", afirmou.

O Secovi foi chamado para ajudar nas investigações da Máfia do ISS. O sindicato disse, na época, que não sabia de nada. Dias depois, os fiscais investigados, cujos telefones estavam grampeados, avisavam uns aos outros terem sido procurados pelo Secovi, que os teria avisado da investigação. Spinelli não tocou no assunto.

O controlador aproveitou para afirmar que a regulamentação da lei, que deve ser feita por todos os Estados e municípios, será publicada na semana que vem pela Prefeitura.

Medo

Após ouvir por uma hora acusações de não colaborar com investigações, um dos diretores do Secovi, João Pestana, disse que muitos empresários do setor não denunciavam pedidos de propina por medo de represálias. "Como você (Spinelli) disse, lidamos com máfias."

Além de voltar a dizer que "certamente" o setor imobiliário teria meios de fazer denúncias de corrupção chegarem às autoridades – pois todos os prefeitos recebem o Secovi -, Spinelli disse que havia diferenças entre fiscais corruptos e assassinos. "Eu também sou um alvo."

Já o presidente do Secovi, Claudio Bernardes, afirmou que o objetivo do encontro era justamente garantir novas práticas para o setor. "Vamos garantir a adoção de uma política de tolerância zero com a corrupção."

Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo

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