Por André Guilherme Vieira e Letícia Casado, do jornal Valor Econômico
Segunda lei municipal de peso em São Paulo após os protestos de junho de 2013, o Plano Diretor de São Paulo vai dar trabalho à base do prefeito Fernando Haddad (PT). Depois de ter a governabilidade desgastada com o aumento do IPTU, que terminou na Justiça, a administração municipal enfrentará nas próximas semanas embates para costurar um acordo e aprovar em segunda votação o plano, cujas diretrizes servirão para planejar o crescimento da cidade pelos próximos 16 anos.
Uma das polêmicas é sobre o uso dos mananciais. O texto destina a moradias populares cerca de 300 mil metros quadrados de área de preservação ambiental localizada no extremo sul da capital, conhecida como Nova Palestina.
"O MTST [ Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto] está sendo enganado. O [vereador] Nabil [Bonduki, relator do plano] e o prefeito [Haddad] estão enganando o MTST", diz o vereador José Police Neto (PSD). Ele votou a favor do projeto, mas diz que tentará aprovar novas emendas ao texto.
O relator Nabil Bonduki (PT) diz que o texto prioriza a questão ambiental por tratar dos temas de zona rural e pagamento de serviços ambientais. Ele diz que a população saiu às ruas no ano passado com muitas reivindicações na área de meio ambiente, e que o plano cria parques e incorpora a política de resíduos sólidos.
Haddad prometeu tornar a Nova Palestina área de interesse social para habitação, mas disse que dependia da aprovação do Plano Diretor. Depois da declaração do prefeito, os sem-teto foram à Câmara pressionar os vereadores. Agora, o MTST ameaça fazer novos protestos para aprovação de emenda que viabilize a desapropriação de outro terreno ocupado em Itaquera, na zona leste, na semana passada.
O vereador Gilberto Natalini (PV), responsável por um dos dois votos contrários à aprovação do projeto – o outro foi de Toninho Vespoli (PSOL) -, diz que Haddad é omisso na questão ambiental e comete um "crime" ao permitir que 8 mil famílias se instalem no terreno na Nova Palestina, na zona sul da capital. "[Haddad] Usou sim [o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto] para aprovar o plano dele, que é ruim. O terreno é de mata nativa com 50 nascentes", diz Natalini. Ele acusa Haddad de insuflar os sem-teto a pressionar a Câmara e "transferir o problema para o Legislativo".
Police Neto vai na mesma linha e diz que não pretende ocupar a área na zona sul da capital. "A proposta que está posta acomoda 10% da população que está lá", diz o vereador. "A administração municipal fez com que [o reajuste da planta genérica dos imóveis e do IPTU] fosse um desastre, e o plano diretor também pode ser", diz Police Neto.
Matéria publicada originalmente no jornal Valor Econômico.