Às vésperas do uso do ‘volume morto’ do reservatório, órgãos gestores do manancial paulista negociam restrição de vazão; consórcio das bacias diz que há projeções sobre falta de água no pico do inverno.
Por Fabio Leite
Às vésperas do início da captação do chamado "volume morto" do Sistema Cantareira, previsto para esta quinta-feira, 15, os órgãos gestores do principal manancial paulista estudam limitar a quantidade de água retirada das represas para abastecer cerca de 14 milhões de pessoas na Grande São Paulo e na região de Campinas ao volume de chuva que cai nos reservatórios. A ideia é tentar evitar o colapso do Cantareira, mas pode comprometer o abastecimento nos próximos meses, que são tradicionalmente secos.
Na prática, se chover menos do que a média histórica do período em 15 dias, por exemplo, a proposta é diminuir proporcionalmente a vazão máxima de água que poderá ser retirada do sistema nos 15 dias seguintes. A proposta está sendo discutida entre a Agência Nacional de Águas (ANA), do governo federal, e o Departamento de Água e Energia Elétrica (Daee), do governo paulista. Os dois órgãos devem definir as novas regras de retirada de água do Cantareira a partir de amanhã, quando a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) deve iniciar a captação da reserva profunda.
Hoje, por exemplo, a Sabesp pode retirar até 22,4 mil litros dos principais reservatórios do sistema para abastecer a Grande São Paulo. A região de Campinas fica com até 3 mil litros, independentemente da quantidade de chuva que cai nas represas. Só em abril, por exemplo, o déficit entre o volume de água que entrou e o volume que saiu foi de 9,1 mil litros por segundo, ou 23,6 bilhões de litros no mês. Só ontem, o prejuízo foi de 19,5 mil litros por segundo.
"Nossa posição é: choveu menos, tira menos; choveu mais, tira mais. Com critério de retirada semanal, no máximo quinzenal, a partir das vazões afluentes, porque estamos diante de um quadro de anomalia absoluta, no qual não podemos fazer previsões a longo prazo. Precisamos trabalhar com intervalos curtos", afirmou o presidente da ANA, Vicente Andreu.
Ele e técnicos do Daee estiveram nesta terça-feira, 13, em Campinas para debater medidas de contingência que podem ser adotadas na região para enfrentar a crise de abastecimento. Após uma das reuniões, o Consórcio das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), que abastece a região, emitiu uma nota afirmando que cálculos apresentados pela ANA confirmavam o prognóstico feito pela entidade de que "vai faltar água no pico da estiagem em agosto e setembro" para Campinas e para a Grande São Paulo.
Em nota, a agência federal negou que tenha feito as projeções. Segundo a ANA, se forem mantidas as condições atuais de retirada de água do Cantareira pela Sabesp (cerca de 21 mil litros por segundo) e a média histórica retirada pelas Bacias do PCJ no inverno (cerca de 7 mil litros), em um cenário no qual a vazão afluente ao sistema tem sido 60% da mínima histórica, faltariam 10 mil litros por segundo para suprir a demanda por água. "Esse foi um exercício que fizemos, não é uma projeção", disse Andreu.
Sem racionar
Nesta terça, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que o "volume morto" será suficiente para garantir o abastecimento sem racionamento. "Se não tiver nenhum fato superveniente, analisando a mínima histórica de vazão, nós chegamos à próxima estação das chuvas (o sistema) cobre o final do outono e o inverno."
Matéria originalmente publicada no jornal O Estado de S. Paulo