Por Elvis Pereira
Antes raras, as faixas exclusivas para ônibus em São Paulo não param de crescer. Agora, podem chegar a 500 km de extensão, superior à distância da capital até o Rio. A rua Augusta e a avenida da Liberdade estão entre as próximas da lista da prefeitura.
Os 500 km podem ser atingidos até o fim de 2015, segundo o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto. "O compromisso de campanha do prefeito Haddad era de 150 km. Isso ele já cumpriu. Agora, estamos trabalhando onde houver necessidade."
A ideia, segundo ele, é corrigir gargalos e criar ligações entre as faixas, formando uma espécie de rede para os ônibus. Um dos exemplos é a avenida Aricanduva, cuja faixa termina antes do cruzamento com a Radial Leste.
O surgimento das faixas na cidade intensificou-se após os protestos de junho de 2013. As manifestações, segundo Tatto, contribuíram para que as faixas fossem criadas. "Elas foram importantes para colocar na pauta a necessidade de priorizar o coletivo."
No entanto, a destinação de parte das ruas para a circulação só de coletivos ainda divide opiniões.
No mês passado, houve protestos no Cambuci, região central. "As faixas são implantadas sem estudo, e o trânsito no bairro piorou", critica a moradora Georgia Rogel, 51. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) recuou e suspendeu um trecho de faixa na avenida Lacerda Franco.
O caso foi parar no Ministério Público. No último dia 30, o promotor Marcus Vinicius Monteiro pediu que a Secretaria de Transportes apresente, até o fim deste mês, cópia dos estudos realizados para a instalação da faixa.
Resultados
Ainda não se sabe com exatidão os efeitos das faixas no dia a dia do paulistano. Estudos da prefeitura indicaram que houve aumento na velocidade média de ônibus.
Além disso, diz Tatto, há registro da chegada de novos passageiros. Porém, a quantidade é desconhecida. De forma geral, o total de pessoas transportadas no ônibus pouco mudou. De janeiro a abril, cresceu 0,27% em comparação ao mesmo período de 2013.
A estudante de arquitetura Mariana Novaski, 27, diz estar entre os passageiros que trocou o carro pelo ônibus. "Comecei a usar com a inauguração da faixa na Paulista, porque antes pegava um pouco de trânsito lá."
Para atrair mais usuários também é preciso oferecer ônibus confortáveis, defende Humberto Pullin, engenheiro de tráfego. "Não se resolve pintando faixas. É paliativo."
O presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Ailton Brasiliense, acrescenta que seria preferível ter faixas à esquerda (corredores). "Mas as da direita são as que são possíveis de fazer."
- Em 2013, o plano era fazer 150 km
- Mas o projeto disparou e hoje são 329 km de faixas exclusivas
- Quem invadir a faixa à direita toma multa de R$ 53,20, além do acréscimo de 3 pontos à habilitação
- Nas faixas à esquerda, o valor sobe para R$ 127,69 e são 5 pontos
- São aplicadas 3 multas a cada 2 minutos por invasão de faixa ou de corredores
- 82 radares fiscalizam as invasões dos motoristas
- A mais extensa, no corredor Norte/Sul, tem 30,7 km
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo