Um estudo feito em São Paulo mostrou que a poluição de carros consumindo álcool pode ser tão nocivas ou mais do que a daqueles rodando com gasolina.
Por Rafael Garcia
Um estudo feito em São Paulo mostrou que a poluição de carros consumindo álcool pode ser tão nocivas ou mais do que a daqueles rodando com gasolina.
A pesquisa foi realizada em entre 2009 e 2011, anos em que o preço do álcool sofreu alta acentuada em certos períodos. Nesses intervalos a frota de carros flex migrou subitamente do etanol para a gasolina por algum tempo.
O fenômeno foi investigado pelo economista Alberto Salvo, brasileiro na Universidade Nacional de Singapura, e Franz Geiger, da Universidade Northwestern, de Chicago. Os dois compilaram uma grande quantidade de dados de venda de combustível, meteorologia, extensão de congestionamentos e controle de qualidade do ar.
Ao contrário do que indicavam estudos de simulação, porém, a concentração de ozônio (um dos produtos de combustão mais nocivos à saúde) foi reduzida em 22%, com o aumento do consumo de gasolina. Em contraposição, os teores de óxido nítrico e monóxido de carbono subiram 25% e 18%. O resultado está em estudo publicado pelos cientistas na revista "Nature Geoscience".
Ainda estão sendo feitos estudos para determinar se essa troca é boa ou ruim em termos de saúde pública, pois esses gases afetam o sistema respiratório humano de diferentes formas. Uma dificuldade é que a OMS (Organização Mundial da Saúde) usa parâmetros diferentes para estabelecer os limites de segurança dessas substância no ar respirado em cidades.
Em São Paulo, porém, o ozônio costuma se aproximar mais do nível de tolerância do que o monóxido de carbono o faz. É ainda uma incógnita na equação o material particulado, derivado de fuligem, pois a Cetesb só começou a monitorar partículas menores em 2011.
Segundo Salvo, o fator que fez a combustão de álcool ter um efeito inesperado em São Paulo é que a cidade em geral tem uma concentração relativamente pequena de hidrocarbonetos, como o metano. Essas são as moléculas que costumam capturar os óxidos de nitrogênio emitidos em alto teor na combustão típica de gasolina.
"Se aumentamos as emissões de óxidos de nitrogênio, eles acabam `comendo' o ozônio ao reagir com ele", diz Salvo. Isso acontece com mais intensidade num lugar com o perfil atmosférico como o de São Paulo, "onde há poucos hidrocarbonetos com que os óxidos de nitrogênio podem reagir", afirma.
Centro x Subúrbio
Um único estudo ainda é pouco, porém, para dar um veredito sobre qual combustível, etanol ou gasolina, é mais nocivo numa metrópole com 7 milhões de carros.
"As reduções em ozônio relatadas por Salvo e Geiger estão provavelmente ocorrendo na parte mais poluída da cidade, que é mais rica em óxidos de nitrogênio", diz Sasha Madronich, do Centro Nacional de Estudos Atmosféricos dos EUA, autor de artigo comentando o estudo da dupla. "A resposta à mudança de combustível pode ser diferente em outras partes da cidade, como os subúrbios."
É inegável que o etanol de cana é mais benéfico que a gasolina em termos de efeito estufa, que causa o aquecimento global, diz Salvo. Independentemente disso, porém, está claro que o álcool está longe de ser um combustível totalmente "limpo" em termos de saúde pública.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo