Toda a água que foi desperdiçada ao longo de 2013 com vazamentos no Estado de São Paulo daria para abastecer a capital paulista durante quase quatro meses, segundo cálculos feitos pela reportagem do UOL.
No ano passado, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) produziu mais de 3 bilhões de m³ de água, segundo o "Relatório de Sustentabilidade 2013", disponível no site da empresa.
De acordo com a companhia, 20,3% dessa água deixaram de ser consumidos no ano passado, o que corresponde a 619,7 milhões de m³ de água perdidos.
Essa quantidade seria suficiente para abastecer a cidade de São Paulo durante quase quatro meses. O consumo médio mensal de água na capital é de 159,5 milhões de m³.
A Sabesp explica que essa água foi perdida por causa de vazamentos entre as estações de tratamento e as residências dos consumidores. "Esses vazamentos ocorrem, principalmente, devido ao envelhecimento das tubulações e às elevadas pressões", justificou, em nota.
A empresa informa que tem investido para reduzir as chamadas "perdas físicas" de água, que diminuíram oito pontos percentuais na última década.
"A Sabesp decidiu intensificar os esforços na redução de perdas, implantando um programa de longo prazo, que foi iniciado em 2009, chamado Programa Corporativo de Redução de Perdas de Água. Neste programa, está prevista a aplicação de R$ 5,9 bilhões até 2020, a fim de atingir, no final da década, níveis de perdas dos melhores sistemas mundiais, em torno de 16,6%."
Desperdício de água
Quatro em cada dez vazamentos de água na Grande São Paulo são invisíveis e indetectáveis, segundo a companhia. Mas o desperdício não tem apenas essa origem. A reportagem do UOL circulou por bairros das zonas oeste e norte da capital e flagrou vários exemplos do mau uso da água.
Pedro Cortês, especialista em gestão ambiental da USP (Universidade de São Paulo), ficou surpreso ao saber que, em meio à crise no abastecimento vivido pelo Estado, moradores usam água tratada para lavar carros, calçadas e garagens
"Quando a pessoa usa água da torneira para lavar calçada, ela está abrindo mão, não agora, mas daqui a alguns meses, da água que ela terá para beber", opina.
Ele classifica o atual momento como "crítico" e diz acreditar que os moradores, principalmente da capital, têm tido problemas para "perceber a real situação".
"É difícil falar em escassez hídrica quando a gente tem chuvas intensas na capital, dois grandes rios –o Pinheiros e o Tietê– que cortam a cidade. Quando se fala em escassez, associa-se a local que não tem chuva", explica.
Na opinião de Cortês, o problema da capital paulista é a grande concentração populacional e a dificuldade de buscar alternativas ao Sistema Cantareira –principal fonte de abastecimento da região metropolitana de São Paulo.
"É preciso estimular o uso racional da água. Se a gente não economizar, vai faltar água para beber, tomar banho, cozinhar. As pessoas não podem acreditar que vão poder comprar água mineral porque vai chegar um momento que o produto vai se tornar escasso e muito caro", alerta.
Matéria originalmente publicada no portal UOL – Notícias.