Para o prefeito Fernando Haddad, será possível trabalhar 7% de todos os resíduos coletados na capital paulista
Por O Estado de S. Paulo
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), afirmou nesta quarta-feira, 28, na abertura do seminário sobre resíduos sólidos, que o principal compromisso de sua gestão com esse assunto é "levar a reciclagem a sério" e essa é a base do plano municipal de resíduos, lançado em abril. Haddad prometeu para o mês que vem a inauguração de duas centrais de reciclagem.
A primeira, na Ponte Pequena, região central, será entregue na semana que vem, no Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho). A segunda, em Santo Amaro, zona sul, deve entrar em funcionamento até o fim do mês. "As centrais vão multiplicar por mais de três nossa capacidade de reciclagem. Vamos chegar a 7% (dos resíduos coletados) nesta primeira etapa com as duas centrais e vamos superar a meta de campanha de chegar a 10% (até o fim da gestão)", disse. "Parece pouco, mas se considerarmos que 40% dos resíduos são secos, significa que 25% vai ser recuperado. Isso é um salto importante para uma cidade considerando o patamar em que ela está."
Atualmente, São Paulo recicla 1,8% dos resíduos coletados. "Em comparação com cidades medianamente desenvolvidas, já é uma vergonha. Temos aterros compatíveis com a legislação, temos coleta porta a porta de referência, mas falta esse respeito. Reciclagem é respeito. Mais que ao meio ambiente, ao trabalho", afirmou.
Falta de confiança. Para o prefeito, a situação atual fez com que a sociedade paulistana perdesse a confiança na reciclagem. "Por muitos anos, a população fez mais que o Estado. Separou em sua casa e viu o Estado juntar de novo. Quando o resíduo chega a uma central que não tem capacidade de reciclar, acaba indo para aterro. E quando isso chega ao conhecimento público, a população perde o ânimo de separar", declarou. Haddad disse esperar que, com o novo processo, a população possa se "reencantar".
Dentro do pacote de ações que serão realizadas na Semana do Meio Ambiente, a Prefeitura de São Paulo planeja lançar também um plano de educação ambiental voltado para a questão dos resíduos e entregar 2 mil composteiras caseiras para iniciar um projeto-piloto de compostagem domiciliar dos resíduos orgânicos.
Papel das empresas. O secretário municipal de Serviços, Simão Pedro, lembrou da necessidade de as empresas entrarem nesse processo de coleta e reciclagem – papel que lhes cabe pela chamada logística reversa.
A ferramenta, instituída pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, prevê que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes têm a obrigação de criar e manter um sistema de retorno desses produtos pós-consumo, independentemente do sistema público de coleta de resíduos. Este, no entanto, pode ser usado, desde que seja remunerado para isso.
Pedro aproveitou o seminário para propor exatamente isso às empresas. A meta do plano municipal é que, até o fim da gestão, a coleta atinja 100% dos distritos paulistanos. Hoje, 75 dos 96 são atendidos. O que, segundo ele, é a parte mais cara para a Prefeitura.
Para o secretário, os setores empresariais que quiserem desenvolver a logística poderiam investir em um fundo que será criado no Município. Segundo ele, esse fundo vai gerir os recursos que serão provenientes da venda dos produtos das centrais de reciclagem (além das duas previstas para junho, outras duas devem ser entregues até o fim da gestão). Os recursos desse fundo serão aplicados nas cooperativas e também reinvestido em pequenas centrais de reciclagem.
"O Ministério Público já disse que não vai permitir que se use recursos públicos para fazer o que cabe ao setor privado. Mas, se eles entrarem nessa conosco, investindo nesse fundo, poderão cumprir a sua parte e nós atingiremos a meta de reciclagem", afirmou.
Matéria publicada originalmente no espaço www.estadao.com.br.