Por Eduardo Geraque
A Sabesp não investiu 37% do que tinha previsto para a realização de obras no período entre 2008 e 2013. A avaliação consta de um documento interno da empresa finalizado em dezembro do ano passado, antes da mais grave crise de fornecimento de água que a Grande São Paulo já enfrentou.
O sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 9 milhões de pessoas, estava com 25% da sua capacidade na última sexta-feira (30) -se não fosse o uso de uma reserva de emergência chamada "volume morto", o nível estaria em 6,5%.
O documento interno ao qual a Folha teve acesso é o Plano Metropolitano de Água III, assinado por um grupo de trabalho que envolve ao menos duas diretorias da Sabesp. Os autores, após elencar benefícios de obras realizadas, criticam os resultados obtidos no período.
A não execução de investimentos "resultou em um considerado descompasso entre o 'previsto' e o 'realizado' nesse programa", diz o texto.
Um atraso destacado pelos analistas é a construção do sistema São Lourenço, que trará água do interior do Estado até a Grande São Paulo.
"O fato mais relevante a ser considerado é a postergação do início da implantação do Sistema Produtor São Lourenço de 2011 para 2014", escrevem os autores.
A obra, prevista para 2011, foi lançada só em abril deste ano pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), durante a crise hídrica. O investimento estimado é de R$ 2,2 bilhões.
Em outro ponto do relatório, os analistas também afirmam que, entre 2008 e 2013, ficaram praticamente pela metade obras que tornam mais confiável a integração entre os diferentes reservatórios que abastecem as cidades da Grande São Paulo.
Essa integração é importante em uma seca como a atual, em que outras represas estão sendo usadas para fornecer água a áreas antes atendidas pelo Cantareira.
Outro lado
A Sabesp informou, por meio nota, que considera bom seu desempenho durante o período 2008-2013.
Na interpretação da empresa, o relatório evidencia que os "benefícios e resultados alcançados atingiram bom desempenho, tendo em vista o horizonte de planejamento de longo prazo".
A Sabesp confirma que o sistema São Lourenço será entregue no fim de 2017. A empresa diz que, como as tubulações vão passar por área de preservação ambiental, o traçado teve de ser refeito para minimizar impactos, o que atrasou o cronograma.
Matéria originalmente publicada no jornal Folha de S. Paulo